Influência da mídia sobre eleições só diminuirá com democratização

Debate da Semana pela Democratização da Comunicação discute concentração da mídia e ausência de controle social como razões para a hegemonia de algumas poucas opiniões.

As decisões editoriais dos maiores veículos do país influenciaram diretamente – pela segunda vez na história – os resultados de uma eleição presidencial no Brasil. A conclusão parece ter se tornado consensual depois da divulgação dos fatos que levaram para as primeiras páginas de jornais, na véspera do primeiro turno, as fotos do dinheiro apreendido com petistas e que seria usado para compra de dossiê contra candidatos tucanos.

Mas o diagnóstico consensual desdobrou-se em uma acalorada discussão sobre como furar estes esquemas de manipulação da informação durante o debate “Mídia e Eleições”, que abriu a programação da 4a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação em São Paulo.

A trama da divulgação das fotos do dinheiro está em voga desde o fim de semana, quando a revista Carta Capital publicou os detalhes do encontro entre o delegado da Polícia Federal, Edmílson Bruno, e quatro jornalistas, a quem entregou um CD com fotos do dinheiro feitas por ele. Bruno disse que as imagens deveriam ser usadas para “f… o PT” e combinou com os jornalistas que iria registrar um BO, dizendo que o material teria sido furtado de sua mesa.

A conversa foi gravada por um dos jornalistas, mas nenhuma linha sobre ela foi publicada. A exibição das fotos teve impacto imediato sobre o desempenho dos presidenciáveis e a disputa foi para o segundo turno, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.

O episódio tem sido comparado à manipulação da edição de reportagem sobre o debate presidencial entre Fernando Collor de Mello e Lula, nas eleições em 1989.

Para Marina Amaral, da revista Caros Amigos, ficou clara a intenção das grandes empresas de mídia de usar o “poder imagético” das fotos do dinheiro para prejudicar a campanha de Lula. “As fotos não são nenhum fato novo, não trazem nenhum fato novo. Por que foram publicadas? Se pode perguntar, também, porque as imagens inocentes do (José) Serra (governador eleito em São Paulo) discursando ao lado dos ‘sanguessugas’ não foram mostradas na TV”, comentou.

O problema da falta de isenção da mídia – que para o editor da Agência Carta Maior e professor da USP Bernardo Kucinski, “não é nem mais objeto de discussão” – toma contorno problemáticos não pela escolha de um lado por determinada mídia, mas pela inexistência de outras que possam construir um quadro mais plural.

Para Marina e Kucinski, assim como para o diretor da Revista Fórum, Renato Rovai, a concentração da mídia é o nó a ser desfeito para equilibrar o jogo político dentro do campo da comunicação. Rovai destacou, ainda, ser necessária a criação de instâncias de controle social da mídia.

“Brigar para mudar a grande mídia? É como querer moralizar o malandro”, ironizou Kucinski, para quem o o problema da concentração da mídia tem de ser resolvido “pela regulação para a democracia”.

Ex-assessor do presidente Lula, o professor foi duro em sua avaliação de como a atuação – ou a falta de – do governo petista contribuiu para que o quadro de disputa política recrudescesse, especialmente no campo midiático.

O primeiro erro apontado por Kucinski foi a opção tática de Lula de não enfrentar a questão do oligopólio e manter uma relação negociada com os grandes grupos de mídia. O segundo seria a condução do governo, propriamente dita.

“Todos os jornalistas brasileiros se tornaram linchadores e acho que o PT e o Lula tem culpa nisso”, disparou Kucinski. “Quando ele (Lula) venceu as eleições, conseguiu quebrar uma resistência popular que ainda existia, numa eleição épica, e estragaram tudo. Não construímos hegemonia e permitimos uma hegemonia reacionária, que pega do jovem ao velho.”

Por Cristina Charão/Agência Repórter Social