Carros blindados atacam homens, mulheres e crianças em Cité Soleil, no Haiti

Na madrugada de 22 de dezembro, desde aproximadamente as três da manhã, 400 soldados das forças de ocupação da ONU, comandadas por brasileiros, com veículos blindados, realizaram ataque massivo contra a população de Cité Soleil, sitiando uma vez mais aquela comunidade empobrecida.

Testemunhas informaram que uma rajada de disparos indiscriminados com armas pesadas começou aproximadamente na madrugada e continuou por grande parte do dia seguinte – uma operação na mesma escala que o massacre da ONU em Cité Soleil de 6 de julho de 2005. Segundo informações, era possível ouvir as detonações há quilômetros de distância. Os primeiros informes jornalísticos falavam de pelo menos 40 vítimas, todas civis. Entre eles, uma mulher grávida e um homem que foi morto em sua própria cama quando as balas perfuraram as paredes. Segundo testemunhas da comunidade, as forças da ONU em helicópteros dispararam contra as casas enquanto outros soldados atacavam por terra, em tanques. As pessoas morreram em suas casas.

Soldados da ONU, brasileiros, uruguayos, chilenos e bolivianos participaram do massacre durante todo o dia, com respaldo de policiais haitianos. Os soldados da ONU tiveram novamente como objetivos os bairros Bois Neuf y Drouillard de Cité Soleil – como no massacre de 6 de julho de 2005.

A "Agence Haitienne de Presse (AHP)" disse que os moradores de Cité Soleil informam sobre sérios danos às propriedades e que há uma preocupação de que possa haver uma crítica escassez de água porque as cisternas e canos tubos de água foram atingidos pelos disparos. Residentes locais dizem que as vítimas foram cidadãos normais, cujo único crime foi viverem na área atacada.

Os ativistas de base em Cité Soleil argumentam que se trata de um "castigo" por seus contínuos protestos, nos quais exigem um fim da ocupação da ONU, a restauração da plena democracia, o retorno do presidente Aristide e a liberação dos prisioneiros políticos.

A comunidade de Cité Soleil tem protestado, também, energicamente contra as eleições municipais de 3 de dezembro, quando houve denúncias generalizadas de fraude e de que o povo foi impedido de votar em muitos candidatos populares. No dia16 de dezembro, o povo de Cité Soleil encabeçou um massivo protesto em todo Port-au-Prince marcando o aniversário da primeira eleição de Jean-Bertrand Aristide como presidente, em 1990. A manifestação aconteceu, apesar dos disparos da ONU contra o distrito na noite anterior, o que foi considerado como um desagravo da ONU para intimidar a população na véspera da passeata. Na semana seguinte, as tensões continuaram aumentando, culminando com o ataque de 22 de dezembro das forças da ONU sob o comando brasileiro.

Fonte: Adital