Pesquisas em Universidades Públicas são o novo alvo da Aracruz no RS

As pesquisas em universidades públicas são o novo alvo da Aracruz no Rio Grande do Sul. A exemplo de convênios realizados no Espírito Santo, a empresa vem negociando acordos com as universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), de Santa Maria (UFSM) e de Pelotas (UFPEL).

Pelo convênio, a Aracruz financiaria estudos de seu interesse dentro das instituições, que entrariam com os recursos físicos e a produção científica de seus profissionais.

Atualmente, tramita no Conselho Universitário (Consun) da UFRGS o protocolo de intenções entre a Faculdade de Agronomia e a Aracruz. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) pediu vistas ao processo na última reunião, em janeiro desse ano. O Consun volta a se reunir em março.

Na UFSM, a empresa quer firmar convênios com o Centro de Tecnologia e o de Ciências Rurais. Lá, também, o DCE pediu vistas ao processo. Renato Záchia, professor do Departamento de Biologia da UFSM, explica que empresas como a Aracruz se interessam em realizar pesquisas com as universidades públicas porque é o único espaço em que encontram profissionais qualificados, precisando investir pouco dinheiro.

"Na minha opinião, esses convênios surgem como convênios técnicos, que poderiam muito bem ser feitos por outros órgãos. Mas justamente essas empresas procuram as universidades para comprometer as faculdades públicas, que são praticamente o único setor do país em que podes fazer pesquisa livremente. E as universidades, ao invés de lutar por verbas públicas, preferem aceitar o dinheiro dessas empresas, que acabam oferecendo muitos recursos", diz.

Os protocolos de intenção nas três universidades são bem parecidos entre si. Em todos eles, o grau de sigilo sobre os resultados da pesquisa é algo a ser negociado entre a empresa e a instituição. No entanto, Renato denuncia que na UFSM professores estão discutindo a possibilidade de ocorrer completo sigilo sobre os dados. Ou seja, a Aracruz faria uma pesquisa utilizando recursos públicos e, ainda assim, ficaria com todos os resultados. Para Renato, o fato é ainda mais grave porque se trata de um estudo focado na monocultura de eucalipto.

"Agora, com essa história do eucalipto o que se quer é implantar uma grande quantidade de clones de eucalipto que, realmente ao contrário do que dizem algumas pesquisas, como que a fauna não vai ser prejudicada pois existem corredores. No entanto, a gente sabe que a mão-de-obra assalariada, embora com carteira assinada, não é melhor do que a diarista que no dia em que chove não recebe salário, não recebe atendimento médico, e que em uma grande parte não vão ser chamados para trabalhar porque precisarão esperar o eucalipto crescer. É um outro paradigma, nós temos dois paradigmas: o que o serviço público deveria seguir, que é o do proteger os ecossistemas, criar alternativas sem a arrogância de impor modelos".

O estudante de Biologia da UFRGS, Eduardo Ruppenthal, representante do DCE, critica essa forma de resolver os problemas financeiros das universidades, pois atendem a interesses privados e não de toda a população. Ele diz que muitos professores e departamentos de ensino adotam os convênios com as empresas como forma de viabilizar as pesquisas nas instituições.
"Historicamente, o DCE sempre foi contra as parcerias com empresas, porque a gente acha que as universidades públicas não devem estar a serviço das empresas, ainda mais multinacionais. Toda pesquisa que é feita deve estar a favor da população. No final, quem paga a universidade pública são os impostos pagos pela população, são os pobres, que não têm nenhum retorno nesse sentido", afirma.

No Espírito Santo, estudantes da Universidade Federal (UFES) e lideranças indígenas realizaram uma série de protestos e conseguiram garantir que um convênio semelhante com a Aracruz só fosse assinado após um amplo debate com a sociedade. 

Fonte: Raquel Casiraghi/Agência Chasque de Notícias