Centrais sindicais reagem contra fim de imposto. CUT lança nota oficial

Os sindicatos de trabalhadores podem perder receita de até R$ 754 milhões por ano se o imposto sindical deixar de ser compulsório, como prevê emenda incluída no projeto de lei aprovado quarta-feira, dia 17, na Câmara. O texto reconhece juridicamente as centrais sindicais.

Com a perda dos recursos, sindicalistas e centrais sindicais estimam que 70% dos cerca de 15 mil sindicatos do país não teriam capacidade de se articular para combater a informalidade, o desemprego e a precarização do mercado de trabalho.

O cálculo da perda de receita foi feito com base no valor do imposto sindical arrecadado em 2007 entre os trabalhadores. O imposto é cobrado de forma compulsória desde a Era Vargas. Os trabalhadores pagam o equivalente a um dia de trabalho. Entre as empresas, o percentual de desconto varia conforme o capital social.

O total arrecadado neste ano chegou a R$ 1,308 bilhão, dos quais R$ 754 milhões vieram dos trabalhadores, R$ 50 milhões, dos autônomos e R$ 504 milhões, das empresas, segundo a ONG Contas Abertas.

A reação das centrais foi imediata, e, desde ontem, segundo sindicalistas, iniciou-se uma operação para "derrubar a emenda, apresentada pelo deputado Augusto Carvalho (PPS-DF).

Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que historicamente diz defender o fim do imposto, é estranho que a contribuição seja facultativa apenas entre os trabalhadores.

“Se o imposto acabar do lado dos trabalhadores, também tem de acabar entre os sindicatos patronais”, afirma Artur Henrique, presidente da CUT.

Confira a nota oficial da CUT:

A Central Única dos Trabalhadores sempre foi e continuará sendo contra o Imposto Sindical. Esta é uma questão estatutária, de princípio e de concepção.

No entanto, queremos deixar claro que havia sido feito um acordo entre o conjunto das centrais sindicais e o governo sobre a regulamentação, que não foi respeitado na aprovação de quarta-feira. Diante disso, queremos chamar a atenção para o debate de algumas questões:

Primeiro – Para acabar com o Imposto Sindical é preciso que isso ocorra tanto para os trabalhadores quanto para os empregadores. Não admitimos que se acabe com o imposto apenas para os Sindicatos de Trabalhadores, pois enquanto isso os patronais continuam tendo preservada sua fonte de recursos. Seriam dois pesos e duas medidas.

Segundo – Somos favoráveis à liberdade e à autonomia sindical, portanto, não aceitamos a qualquer ingerência do Estado. Sindicato não é órgão de Estado, por isso não concordamos que o TCU (Tribunal de Contas da União) tenha como papel investigar e acompanhar as contas das entidades sindicais, ainda mais que, de novo, a decisão implica na fiscalização apenas das entidades sindicais dos trabalhadores, isentando a dos empregadores. Para nós, quem tem de investigar e acompanhar a transparência, a prestação de contas, são os próprios trabalhadores, que devem exigi-las de seus Sindicatos.

Terceiro – Nós somos favoráveis a retomar o debate que foi feito no Fórum Nacional do Trabalho, onde se implementou uma contribuição sobre a negociação coletiva, que quem decide sobre ela são os próprios trabalhadores em assembléia.

Retomar estes pontos é fundamental num momento como esse.

Repetimos: o que foi aprovado não reflete o que foi acordado e só retira recursos das entidades dos trabalhadores e não dos empregadores.

Artur Henrique, presidente nacional da CUT