Lula encontra Fidel e formaliza acordos comerciais com Cuba

A exploração de petróleo, a construção de uma fábrica de lubrificantes e créditos para aumentar a importação de alimentos e produzir níquel foram os temas dos principais acordos assinados nesta terça-feira em Havana durante a visita a Cuba do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. A esperada visita do presidente brasileiro ao líder cubano Fidel Castro –amigo pessoal de Lula há décadas– concretizou-se por volta das 20h (horário de Brasília).

Uma dezena de acordos foi concluída nesta terça-feira (15) por representantes dos dois países no Palácio da Revolução, na presença de Lula e do presidente interino Raúl Castro.

Com estes acordos, os investimentos brasileiros em Cuba devem se aproximar de US$ 1 bilhão.

Entre os acordos, destaca-se o firmado entre as empresas Cupet e Petrobras que irá garantir a participação do Brasil na busca de petróleo nas águas profundas cubanas do Golfo do México.

Uma sociedade mista será criada para produzir e vender lubrificantes em Cuba. Além disso, Cupet e Petrobras assinaram um acordo de cooperação técnica.

No campo da biotecnologia foi firmado um contrato sobre patentes e transferência de informações técnicas sobre o Interferon Alfa-2B.

Celebrou-se também um acordo sobre créditos brasileiros para compra de alimentos, ampliação e modernização de usina de níquel em Moa (leste) e compra de equipamentos para a piscicultura. Outros nove créditos estão sendo analisados para projetos nos setores de hotelaria, farmácia, biotecnologia, infra-estrutura, indústria açucareira e transporte.

Haverá ainda cooperação técnica na produção de soja e projetos conjuntos para promover o desenvolvimento industrial e ampliar o acesso à informação industrial de ambos os países.

Por fim, firmou-se um acordo básico de cooperação científica, técnica e tecnológica e convênios suplementares para o fortalecimento institucional do controle de qualidade e vigilância sanitária, colaboração entre os ministérios da Saúde e suporte técnico para o sistema de informação em águas subterrâneas.

O governo também está disposto a abrir as portas para reconhecer diplomas de estudantes brasileiros formados na Escola Latino-Americana de Medicina (Elam), de Cuba. Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, três universidades têm interesse em participar desse esforço: as federais do Ceará e do Acre e a Unirio. ‘É preciso compatibilizar os currículos da Elam com o das universidades brasileiras. A idéia é que os estudantes façam estudos complementares no Brasil para ter o diploma reconhecido’, disse Haddad, em Havana.

Cerimônias

Além de Lula e Raul Castro, estavam presentes na cerimônia de celebração dos acordos, pela parte brasileira, o Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim; o Ministro de Desenvolvimento, Comércio e Indústrias, Miguel Jorge; o Ministro da Educação, Fernando Haddad; o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão e o Prof. Marco Aurélio Garcia, assessor especial para assuntos internacionais da presidência da república, entre outras autoridades brasileiras.

Pela parte cubana compareceram, entre outros, os membros do Bureau Político Carlos Lage Dávila, vice-presidente do Conselho de Estado, Yadira García Ministra da Indústria Básica, assim como Fernando Remírez de Estenoz, membro do secretariado do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, Felipe Pérez Roque, Ministro das Relações Exteriores, Raúl de la Nuez, ministro do Comércio Exterior, Francisco Soberón, ministro Presidente do Banco Central de Cuba.

Antes de ser recebido no Palácio da Revolução, Lula rendeu homenagem ao Herói Nacional de Cuba, José Martí, e depositou uma oferenda floral no Mausoléu que leva seu nome na Praça da Revolução.

Lula chegou ontem à noite a Havana, para realizar sua segunda visita oficial a Cuba, procedente da Guatemala, onde assistiu à cerimônia de posse de Álvaro Colom. No aeroporto foi recebido pelo chanceler da ilha, além do vice-ministro de Exteriores cubano, Alejandro González e Pedro Núñez Mosquera, embaixador de Cuba no Brasil, e outras autoridades cubanas.

A visita do presidente Lula visa aprofundar os vínculos de amizade e cooperação entre os dois países, que restabeleceram laços diplomáticos em 26 de junho de 1986. Nos últimos anos o Brasil se transformou no segundo maior sócio comercial da Ilha na América Latina, com um intercâmbio bilateral que até setembro último superava os 277 milhões de pesos.

O comércio mútuo abarca os setores da produção de alimentos, biotecnologia, saúde, indústria leve, química e petroleira. Empresas cubanas têm associações com importantes companhias brasileiras como a Petrobras e a Souza Cruz.

Encontro com Fidel

A parte da visita mais aguardada pela imprensa foi o encontro de Lula com o líder cubano Fidel Castro, que encontra-se hospitalizado, recuperando-se de uma delicada cirurgia.

O encontro entre os dois mandatários vinha sendo tratado como sigiloso e a confirmação dependia do aval dos médicos que tratam do líder cubano. O aval e o posterior encontro ocorreu por volta das 20h (horário de Brasília, 17h no horário de Havana). O encontro foi reservado entre os dois líderes. A imprensa não teve acesso.

Antes do encontro com Fidel, Lula fez elogios ao presidente e disse ser apaixonado pela revolução cubana. ‘Eu sou da geração que é apaixonada pela revolução cubana. Eu tenho carinho especial pelo Fidel. Visito Cuba desde 1985 e eu estou torcendo para o Fidel ter uma recuperação extraordinária’, disse o presidente.
A viagem de Lula mais de cinco anos após sua primeira visita a Cuba como presidente tem como objetivo aumentar a presença brasileira na ilha comunista nesse momento de transição, justamente por conta da doença do líder.

Fonte: Vermelho, com agências