Trabalhadores retomam campanha “O Petróleo é Nosso”

Como secretário geral do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ), Emanuel Cancella está à frente de uma luta de resistência contra a entrega do nosso petróleo e gás ao capital privado, há mais de 15 anos. Em 1996, então diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), com apoio do MST, participou de protesto contra a quebra do monopólio estatal do petróleo ocupando o salão verde do Congresso Nacional. Em novembro de 2006, a Frente Nacional dos Petroleiros (FNP), da qual o Sindipetro-RJ faz parte, ocupou por 13 dias a Petrobrás, contra realização do 8º leilão. O leilão foi suspenso pela justiça e depois cancelado pelo governo. Em novembro do ano passado, enquanto a Agência Nacional de Petróleo (ANP) promovia a 9ª Rodada de Leilão, o Sindipetro-RJ comandava, ao lado de outras entidades – dentre elas o MST, CUT e Conlutas – uma ocupação da sede da ANP. Em março, cerca de 60 entidades instituíram o Fórum Nacional contra a Privatização do Petróleo e Gás, durante cerimônia na ABI. Em junho, um ato-show no Teatro do MEC, com a presença de vários artistas, lançou a campanha para a sociedade. O sonho é reeditar uma campanha vitoriosa, como foi "O Petróleo é Nosso", nas décadas de 1940 e 1950. É uma corrida contra o tempo. Nos próximos dias 17, 18 e 19 de setembro os movimentos social e sindical, reunidos em torno do Fórum, fazem uma nova ofensiva, preparando uma grande mobilização, dispostos a vencer esse embate contra os oligopólios do setor petróleo e seus aliados junto à burguesa nacional. Em entrevista ao Brasil de Fato, Cancella conta como os trabalhadores estão se organizando.

1- Por que reeditar a campanha "O Petróleo é Nosso", agora rebatizada como "O Petróleo tem que ser Nosso"?
Na campanha "O petróleo é Nosso" tudo não passava de um sonho, o petróleo não existia. Pessoas como Monteiro Lobato, Barbosa Lima Sobrinho e Maria Augusta Tibiriçá, juntos a milhares de brasileiros, se organizaram e foram às ruas na maior campanha cívica que este país já assistiu. Culminou com o presidente Getulio Vargas criando a Petrobrás, o movimento queria mais e Vargas cedeu, sendo instituído o monopólio estatal do petróleo.

2- Como se contrapor ao pensamento único que domina grande parte da mídia?
"A mídia é o partido do grande capital", dizia Gramsci. O grande capital está representado pelas multinacionais do petróleo, as mesmas que promovem a guerra no Iraque e no Afeganistão e golpes como na Venezuela. No Brasil, a Lei 9478/97 representa integralmente os interesses das multinacionais. Criada por FHC, até agora Lula não modificou essa lei.

3- Os trabalhadores, representados sobretudo pelos movimentos sociais e sindicais, têm projeto para o país, no que diz respeito à questão do petróleo?
Lógico. Existem inúmeras propostas. Existem aqueles que querem o cancelamento dos leilões da ANP e a revisão de todos os já realizados; há os que querem a mudança no marco regulatório e não rever o que já foi feito, respeitando os contratos; os que querem o aumento na Participação Especial, imposto cobrado pelo barril de petróleo, pois no mundo a média é de 84% e no Brasil 45%. Os que acham que criar uma empresa exclusiva para administrar o pré-sal na verdade é lesar a Petrobrás, empresa que investiu e desenvolveu tecnologia que possibilitou a descoberta. Há os que querem simplesmente a mudança nos royalties. Para nós, da coordenação do Fórum Nacional contra a Privatização do nosso Petróleo e Gás, todos contribuem para a soberania nacional. O que vai determinar a prevalência no setor, não temos dúvidas, é a mobilização!

4 – Você acredita que o presidente Lula está do lado do povo brasileiro ou do segmento empresarial?
O presidente Lula ponha suas barbas de molho, porque a história vai cobrar caro qualquer vacilação ou omissão na defesa da nossa soberania. Collor é um exemplo: teve o apoio de toda a elite brasileira, a mesma que depois, sem nenhuma auto-crítica, exigiu seu impeachment. Lula goza de grande prestígio junto ao povo brasileiro e tem pretensões políticas futuras. O melhor caminho para Lula é estar ao lado dos trabalhadores.

5– Como deveria ser o debate sobre o novo marco regulatório?
Amplo, com representantes de toda a sociedade. Nós, do Fórum, estamos dispostos a continuar chamando a mobilização, mesmo diante das ameaças da ABIN e da Policia Federal. Vamos estar ao lado do interesse do povo brasileiro. Aliás, vários brasileiros foram presos e até morreram na luta do "O Petróleo é Nosso". Nós vamos retomar esta bandeira. Nesta questão, gostaríamos que o governo ouvisse a Associação dos Profissionais da Petrobrás, a Aepet. Nesse debate, nos sentimos bastante representados pelas posições da Aepet.

6- Como enfrentar as atuais batalhas, com perspectivas de vitórias para a classe trabalhadora?
Vamos fazer a nossa parte. Ninguém imaginava que a "Diretas Já" iria deslanchar, depois de uma modesta mobilização em Curitiba. Vamos tentar aflorar o orgulho nacional. As multinacionais já estão de posse de metade das áreas com potencial petrolífero brasileiro. A maioria está ligada aos mesmos países que, no tempo do Brasil-colônia, levaram nosso ouro e prata. Agora querem levar nosso petróleo e gás: Portugal através da (Petrogal); Espanha (Repsol); Inglaterra (BG Group); Holanda/Inglaterra (Shell) origem.

7- Que recado você daria para aqueles que estão dispostos a dar a sua contribuição nessa luta?
Dias 16, 17/18/19 de setembro vamos promover atos em frente à sede da Petrobrás, no Rio. Gostaríamos que o movimento social reproduzisse em seus estados nossa mobilização para mostrar ao governo Lula que estamos atentos à questão do petróleo e de olho na Comissão Interministerial que está discutindo a lei do petróleo.

Fonte: www.apn.org.br