Sindicato de policiais civis critica truculência do coronel Paulo Mendes e do governo Yeda

O presidente do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do Rio Grande do Sul (Ugeirm), Isaac Ortiz, entende que já é passada a hora de o comandante da Brigada Militar, coronel Paulo Roberto Mendes, sofrer uma repreensão pública dos segmentos que zelam pela democracia no Estado, inclusive por parte dos editoriais da imprensa gaúcha. Em texto publicado no site da entidade, Ortiz classificou a operação da Brigada contra a Marcha dos Sem como um desastre.

Veja o texto abaixo:

Os governos tucanos e as Polícias

Quinta-feira, dia 16 de outubro. Em São Paulo, milhares de policiais civis, que estão em greve há um mês, fizeram caminhada pacífica para pressionar o governador. José Serra não recebeu os líderes do movimento grevista e colocou a cavalaria e a tropa de choque da PM contra nossos colegas manifestantes. O saldo é de 22 colegas feridos. Em Porto Alegre, o comandante da Brigada Militar, coronel Paulo Mendes, que já avançou contra professores desarmados (um deles deficiente físico), cometeu mais uma de suas investidas contra manifestação pacífica. O lamentável episódio deu-se durante a Marcha dos Sem, que acontece há 13 anos. Governos tucanos de São Paulo e do Rio Grande do Sul, além de pagarem os piores salários do Brasil aos seus policiais, parecem não entender qual é o papel constitucional das polícias.

Já é passada a hora de o comandante da Brigada Militar sofrer repreensão pública dos segmentos que zelam pela democracia no Rio Grande do Sul – inclusive dos editoriais da imprensa gaúcha. “Não importa se as pessoas concordam ou discordam das reivindicações do professores gaúchos, dos policiais paulistas ou da Marcha dos Sem. Importa saber que todos têm o direito de manifestação pacífica e os comandos das Polícias Militares de São Paulo e do Rio Grande do Sul têm que respeitar esse direito. O comandante da Brigada Militar, antes de obedecer aos desmandos da governadora Yeda Crusius, tem o dever de respeitar a Constituição Federal. Eu testemunhei o que aconteceu e a postura do comando da Brigada é condenável”, avalia o presidente da Ugeirm, Isaac Ortiz.

Segundo Ortiz, a Praça da Matriz já estava preparada para receber os manifestantes. Havia cordões de isolamento e brigadianos a postos. “A confusão foi criada pelo próprio coronel Paulo Mendes, ao impedir que um carro de som incomodasse os sensíveis ouvidos da governadora. É quase inacreditável, pois ele mesmo teve o papelão subserviente de tocar música para Yeda no dia do aniversário dela, na frente da casa que ela mal explica como comprou”. Bombas de efeito moral e tiros foram disparados. Pessoas foram pisoteadas, pelo menos uma dezena saiu ferida (uma professora permanece hospitalizada). Parlamentares tentaram interceder, mas a confusão causada pelo coronel Mendes já estava instalada. “A ação da Brigada foi um desastre. Foi truculenta e anti-democrática para tentar blindar um governo reprovado pela maioria da opinião pública”, resume Ortiz.

Opiniões autoritárias

O coronel Paulo Mendes tem todo o direito de ter opinião própria. Causa espécie, todavia, que ele conceda entrevista incentivando a reação de cidadãos comuns em situações de violência. Todos os policiais, civis ou militares, sabem que a reação pode custar a vida de uma pessoa sem preparo e desarmada frente a um criminoso.

“Eu jamais incentivaria a reação de um cidadão comum, pois eu sei que posso colocar a vida desse cidadão em risco. Bandido, quando se sente acuado, pode matar, sim. Ele é bandido, ora. Quando se ocupa um cargo de comando da Brigada Militar, deve-se ter reserva e prudência ao se expressar. A pena de morte, que ele defende, é inconstitucional. É cláusula pétrea, nem emenda constitucional pode mudar isso. Opiniões desse quilate, feitas pelo comandante da Brigada Militar, constrangem a ordem constitucional que ele tem o dever de respeitar”, avalia Ortiz.

Na avaliação do sindicato, as ações da Brigada Militar, sob o comando do coronel Paulo Mendes e da governadora Yeda Crusius, criam animosidades que não podem ser estimuladas. “Ontem foi contra os professores, hoje foi contra a Marcha dos Sem. Em São Paulo, a PM agiu contra nossos colegas, como se policiais civis fossem bandidos. Essa truculência não pode angariar apoio por, supostamente, conter baderneiros profissionais. Isso é um Estado autoritário”, finaliza Ortiz.