A injusta política social de Lula. Estudo recente da OIT sobre os empregos no Brasil mostra que os assalariados detêm somente 37% do PIB.

Porto Alegre (RS) – Olá. Na semana passada, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), instituição ligada à ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou relatório econômico sobre os ganhos de produtividade proporcionados pelo crescimento brasileiro nos últimos 13 anos. A grande conclusão foi a seguinte: os ganhos de produtividade medidos pelo PIB per capita não se traduziram em ganhos salariais para os trabalhadores do campo e da cidade.

Entre 1995 e 2007, constatou o estudo, o crescimento do PIB per capita, que é a soma das riquezas produzidas no país no período dividida pelo número de habitantes, atingiu 16%. No mesmo período, no entanto, a renda média dos trabalhadores do país caiu 6%, passando de R$ 1.023,00 para R$ 956,00 mensais. A combinação de queda na renda dos trabalhadores e de crescimento na economia fez a participação dos salários no PIB cair. De 2001 a 2007, apontou o relatório, esse percentual foi de 37%. Ou seja, somente 37% do PIB brasileiro é efetivamente apropriado pelos nossos assalariados. Já nos Estados Unidos, os trabalhadores detêm em torno de 75% do PIB norte-americano.

Se observsa então que o crescimento econômico do último período tem sido vantajoso somente então para as classes proprietárias no Brasil. Houve aumento de oferta de emprego e de riqueza, mas essa riqueza ficou concentrada, mais concentrada ainda nas mãos dos mesmos. Na questão salarial, ligada ao gênero, de acordo com os números da OIT, se em 1985 as mulheres recebiam em média 62% do salário dos homens, em 2006 essa proporção passou a 71%, tendo diminuído levemente a injustiça nessa área.

Já na questão ligada à etnia, o avanço foi menor ainda. Em 1985, os negros recebiam 49% do que recebiam os brancos. Em 2006, recebiam 53%. A diminuição da diferença foi mais inexpressiva ainda, mas pelo menos caminha, não está paralisada e nem está aumentando a injustiça entre as etnias brasileiras. A conclusão parcial a que se chega, meus caros ouvintes, é de que o Brasil de Lula ainda precisa mudar muita coisa na questão social. Pode-se dizer que enquanto o ganho dos assalariados sobe pelas escadas, os ganhos das classes proprietárias, banqueiros, dos grandes fazendeiros, dos especuladores e dos rentistas sobem de elevador turbinado.

Assim, a política social de Lula tem se revelado uma não-justiça, porque ao mesmo tempo em que aumenta os ganhos salariais não os aumenta o equivalente a riqueza total gerada no período Logo, uma não-justiça ou uma justiça pela metade é o mesmo do que a injustiça.

Pensem nisso, enquanto me despeço.

Até a próxima!

Cristóvão Feil é sociólogo e editor do blog Diário Gauche (www.diariogauche.blogspot.com)