Gravações revelam corrupção no Piratini, dizem parlamentares do PSOL

Parlamentares do PSOL gaúcho concederam coletiva à tarde do dia 19 de fevereiro e soltaram nove bombas contra o Palácio Piratini. Eles afirmam que o ex-tucano e lobista Lair Ferst já teve acordo de delação premiada homologado pela Justiça Federal. O “ex-embaixador” Marcelo Cavalcante também faria um acordo de delação premiada e teria sido pressionado a recuar de sua decisão pela governadora Yeda Crusius e pelo presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra.

O depoimento de Marcelo Cavalcante teria sido adiado algumas vezes. Antes que seu depoimento fosse prestado, todavia, ele apareceu morto em circunstância que deverá ser esclarecida pela Polícia do Distrito Federal. Os parlamentares acreditam que não se pode descartar, por enquanto, a hipótese de suicídio ou de homicídio. Os parlamentares dizem ter mantido contato pessoal com o “ex-embaixador”, entre outras testemunhas.

Lair Ferst teria oito horas de gravação

Até onde se sabe, Cavalcante não era réu, nem testemunha, no processo resultante da Operação Rodin. Todavia, ele aparece em vários trechos de gravações feitas por Lair Ferst – e, supostamente, em poder de quatro procuradores da República: Enrico Rodrigues Freitas, Adriano Raldi, Alexandre Schneider e Ivan Marx, que trabalham sob a coordenação do primeiro. Ao todo, haveria cerca de 8 horas de gravações. Os parlamentares dizem ter visto as imagens.

“O áudio e o vídeo são de excelente qualidade. São provas irrefutáveis”, disse o vereador Pedro Ruas. Os parlamentares afirmam terem tido acesso a diversas testeminhas e gravações sem qualquer intermediação do Ministério Público Federal. Nenhum trecho gravado foi exibido para os jornalistas e os parlamentares não confirmaram ter em seu poder cópias das fitas. Nenhum documento foi apresentado.

Cavalcante teria decidido por delação premiada

O “ex-embaixador” teria sido procurado para depor. “Como ele aparece em vários trechos, ele se tornaria réu. Por isso, Marcelo Cavalcante também havia decido fazer o acordo de delação premiada”, destacou Luciana Genro. Mas o “ex-embaixador” teria sido pressionado a recuar de sua decisão durante reunião mantida com a governadora Yeda Crusius e com o senador Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB.

A esposa de Cavalcante, em entrevista publicada hoje por Zero Hora, confirma o encontro de seu marido com a governadora, mas não menciona qualquer denúncia. Logo após o corpo de Marcelo Cavalcante ter sido encontrado, Carlos Crusius, marido de Yeda, expediu correspondência eletrônica atribuindo a morte de Cavalcante à atuação dos “abutres” da CPI do Detran.

A coletiva

Às 14 horas, teve início a coletiva concedida pela deputada federal Luciana Genro e pelo vereador Pedro Ruas na sede do PSOL em Porto Alegre – a vereadora Fernanda Melchiona e o presidente estadual do partido, Roberto Robaina, também estavam presentes.

“As gravações são de conhecimento do Ministério Público Federal e nós sabemos que os procuradores têm seu tempo. Mas o tempo da política e da vida das pessoas é outro”, disse a deputada, para quem não se pode descartar as hipóteses de suícidio, ou de homicídio, de Marcelo Cavalcante. Ela disse ter receio do desaparecimento de outras testemunhas.

Pedro Ruas disse que, ao todo, existem 28 eventos relacionados na delação premiada de Lair Ferst. Desse total, foram selecionados nove denúncias, que seriam as mais representativas do esquema de corrupção que teria se instalado no Palácio Piratini. As denúncias envolvem crime eleitoral (caixa 2), o esquema de corrupção no Detran, pagamento de contas particulares da governadora, compra e reforma da casa da governadora.

Nove eventos, segundo o PSOL

1 – Entrega de 500 mil reais pela Mac Engenharia durante a campanha eleitoral. A empresa não aparece entre as doadoras da campanha da governadora. Há áudio e vídeo. Aparecem na gravação Lair Ferst, Marcelo Cavalcante, Delson Martini, Aod Cunha, Rubens Bordini e Carlos Crusius.

2 – Duas parcelas de 100 mil reais entregues por empresas do setor fumageiro de Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul.

3 – Reunião entre Lair Ferst, Flávio Vaz Netto Antônio Dorneo Maciel e com a governadora Yeda Crusius já empossada. Não há áudio ou vídeo. Lair Ferst teria oferecido 100 mil reais do esquema do Detran à governadora. Yeda teria respondido que por esse valor ela não se levantava da cadeira.

4 – Durante o segundo turno da campanha eleitoral de 2006, o deputado federal José Otávio Germano entrega 400 mil reais para a candidata Yeda Crusius. Marcelo Cavalcante e Lair Ferst estão na reunião. Germano afirma esperar receber “crédito político” pela contribuição em dinheiro.

5 – Longa gravação feita no escritório de Lair Ferst onde se detalha a compra da casa da governadora. O interlocutor é Albert, corretor de imóveis. Há a entrega de 400 mil reais em dinheiro que não fariam parte dos 750 mil reais declarados por Yeda Crusius na compra do imóvel.

6 – Reunião com a presença de Lair Ferst e Marcelo Cavalcanti. Delson Martini e a assessora Valna Villarins aparecem em gravação distribuindo o pagamento do que foi denominado “mensalinho”. Os destinatários dos pagamentos não foram identificados pelos parlamentares: não é secretário de governo, nem deputado ou outro nome conhecido.

7 – Entrega de 100 mil reais de caixa 2 durante a campanha eleitoral. A entrega é feita por Humberto Busnelo a Aod Cunha.

8 – Pagamento de contas particulares da governadora, entre elas a de supermercado. Yeda já é governadora. Lair Ferst e Marcelo Cavalcante aparecem na gravação. Envolve-se a agência de propaganda DCS.

9 – Gravação em que Lair Ferst discute a reforma da casa da governadora com interlocutor da Magna Engenharia.

Repercussão

Após a coletiva, a imprensa entrevistou diversas pessoas citadas pelos parlamentares do PSOL. O advogado de Lair Ferst nega conhecer as gravações. Aod Cunha nega ter intemediado recebimento de dinheiro para a campanha eleitoral. Empresários negam as contribuições. O procurador Adriano Raldi nega ter conhecimento das provas que estariam no Ministério Público Federal – a delação premiada envolve compromissos de sigilo, aliás. Lair Ferst não foi encontrado. Os parlamentares não disseram, todavia, que tiveram notícia das gravações: eles afirmam terem visto o vídeo gravado por Lair Ferst. O Palácio Piratini não havia se manifestado ate às 18 horas. Luciana Genro e Pedro Ruas mantiveram audiência com Geraldo Da Caminho, do Ministério Público de Contas, na tarde do dia 12, depois da coletiva.

Fonte: Fábio Carvalho/Engenho Comunicação e Arte