Ex-diretor da Petrobras explica porque o Petróleo tem que ser nosso em aula pública na Ufrgs

Fotos Cadinho Andrade
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Dois projetos para exploração do Pré-sal estão em disputa no Congresso Nacional. Um foi anunciado pelo presidente Lula na segunda-feira (31/8) e o outro protocolado (dia 27/8) pelo deputado Fernando Marroni que representa a proposta das entidades e movimentos sociais que defendem que o “Pré-Sal é nosso”.
O projeto do Governo fica no meio do caminho. As diversas entidades reunidas em comitês estaduais defendem que a exploração da Camada Pré-Sal tem que ser 100% estatal ao invés da proposta do governo de um modelo de produção de petróleo compartilhada.

No projeto dos movimentos os recursos devem ser aplicados num fundo social que garanta a construção do país que nós queremos e o desenvolvimento social, com investimentos na educação, na saúde, na soberania alimentar, em pesquisa e na infraestrutura.

O projeto da sociedade retoma a proposta inicial da Campanha de 1940 “O Petróleo é nosso” que defendeu o monopólio estatal neste setor e criou a Petrobrás. Para o engenheiro e professor da USP, Luis Sauer, ex-diretor de gás e energia da Petrobras, “se nós gritamos o petróleo é nosso quando não tinhamos petróleo no país, agora que temos não podemos ter vergonha de falar”. Sauer foi o convidado do Comitê Gaúcho da Campanha “O Pré-Sal é Nosso”, para a aula inaugural que reuniu um público de mais de 600 pessoas, no dia 1º de setembro no salão de Atos da UFRGS.


Mobilização da Sociedade

Na abertura o presidente do Sindicato dos Petroleiros do RS, Edson Flores, informou que a proposta para restabelecer o monopólio estatal do petróleo e transformar a Petrobrás em empresa 100% estatal e pública já está em tramitação na Câmara dos Deputados, através do Projeto de Lei 5891/2009, protocolado no dia 27/08 pelo deputado Fernando Marroni. Ele destacou que é fundamental a multiplicação de comitês e que o jogo só está começando.

O representante do presidente da Assembléia Legislativa do Estado, Ricardo Haesbaert, afirmou que o compromisso da Campanha é potencializar este debate na sociedade e o Magnífico Reitor da UFRGS, Carlos Alexandre Netto, afirmou que num momento como este a universidade tem que participar e debater o modelo de exploração e distribuição, e que este tem sido o papel da instituição nos seus 75 anos.
Para o professor da UFRGS Jorge Quillfeldt para que este processo seja vitorioso é preciso sensibilizar o Congresso. “Só um governo pressionado pode mudar e só o povo mobilizado pode pressionar”.

Apropriação das energias


O professor Luis Sauer que se formou na UFRGS fez uma abordagem sobre a importância da soberania energética nas grandes revoluções que ocorreram no mundo, com o uso das energias da natureza na revolução agrícola, com o uso do carvão e da energia elétrica na revolução industrial e o uso do petróleo, que possibilitou o uso de todas energias, junto com os motores elétricos e a carvão e potencializou o desenvolvimento das nações”.

Na sua brilhante explicação ele demonstrou que em todos os países a apropriação das energias é o principal objeto de disputada independente de ser capitalistas ou socialista, desenvolvido ou em desenvolvimento. “Não foi a toa que no início do século XX se formaram os grandes cartéis internacionais, às sete irmãs, que se espalharam em diversas partes do mundo. Mas a maioria dos países percebeu o risco de deixar as suas riquezas nas mãos das empresas privadas e começaram a nacionalizar as indústrias de energia elétrica, de água e de petróleo”. Em 1938 o México nacionalizou as companhias de petróleo, no Brasil se regulamentou o código de água, se nacionalizou a energia elétrica e se criou o Sistema Petrobrás em 1940. “Naquela época o povo brasileiro entendeu que era possível transformar a sociedade que era rural em urbana, ”.

Os desafios da Petrobras
Sauer explicou que a Petrobrás passou por grandes fases, de 50 a 70 o desafio foi encontrar petróleo e abastecer o país. De 73 a 79 teve as grandes crises do petróleo, a taxa de juros cresceu muito e o endividamento com o “milagre brasileiro”. De 1970 a 1990 a meta era a autosuficiência e o investimento em novas fontes energéticas como o álcool e eletricidade. “O maior benefício que a Petrobrás criou foi o processo de capacitação em 2005 e os estudos geológicos da empresa e em 2006, o país atingiu a autosuficiência e descobriu o Pré-Sal em 2007”.
A descoberta do Pré-sal mais que duplicará a previsão de extração de óleo atual. Mas isto só foi possível com a força dos trabalhadores, comprovado com gráficos que mostram que a medida que a empresa e o número de trabalhadores cresce foi possível aumentar a produção, a qualidade e a eficiência da empresa. Mas isto só foi possível com a retomada pelo Governo Lula do modelo anterior, pois o governo FHC com a lei 9478, acabaou com o monopólio do petróleo prejudicando o desenvolvimento da Estatal.



Tem que ser estatal
Por estes motivos hoje as diversas entidades retomaram a campanha do “Pré-sal é nosso”. “Com o Pré-Sal vai ser possível criar mais de um milhão de postos de trabalho. Com a criação desta nova empresa estatal o presidente está ignorando a história da Petrobras e do povo. Com esta proposta que está no congresso hoje, estamos queimando o petróleo das gerações futuras, por isto não pode ser mantida a mesma estratégia, a descoberta do Pré-Sal é a vitória histórica da Petrobrás, apesar do modelo criado pelo FHC”, afirmou Sauer.
Segundo ele a Petrobras é uma das maiores empresas do mundo e possui eficiência industrial e é a mais capacitada e adequada para operar em águas profundas. “Não se cria competência de uma hora para outra, com uma empresa nova. E o mais importante deste debate é com quem vai ficar a grana. O governo tem que usar estes recursos para financiar planos nacionais de desenvolvimento, acabar com a licitação de blocos de exploração, criar um fundo para recompor as reservas. O que o FHC vendeu ontem por 5 bilhões hoje vale 100 Bilhões. O valor da Petrobras está vinculado a expectativa de ganho. Por isto é importante que a questão é ideológica e estatizante, que a Petrobras tem que ser 100% estatal. Todo mundo sabe que tem que ser estatal”, concluiu Sauer.

Por Luis Henrique Silveira