Uruguai Socialista José Mujica é favorito na corrida presidencial

A corrida presidencial no Uruguai, que elegerá seu próximo mandatário no próximo domingo (25), chega à reta final com um favorito, o socialista José Mujica (45% das intenções de voto) e um persistente número de indecisos, em torno de 10%. Mujica é o candidato governista à sucessão de Tabaré Vasquez, que termina o mandato com um índice de aprovação popular em torno dos 60%.

Primeiro representante da esquerda uruguaia a chegar ao poder, em 2005, quebrando a alternância dos tradicionais partidos Blanco e Colorado, Vázquez executou pontos de sua plataforma -como as reformas nas áreas tributária e trabalhista e avanços nas políticas de direitos humanos- sem provocar crises institucionais.

E é associando sua imagem à do presidente que Mujica busca diluir a resistência da parcela mais conservadora (e ainda indecisa) do eleitorado. O ex-guerrilheiro do grupo revolucionário Tupamaro, Mujica, 74, tem feito inúmeros elogios a Vázquez, enfatizando que pretende dar prosseguimento às reformas do presidente, de quem foi ministro de Agricultura e Pecuária.

Na verdade, José Mujica tem a característica de representar, ao mesmo tempo, a continuidade e a mudança. Desde o fim da ditadura militar, o Uruguai vinha sendo comandado por advogados de cabelos e ternos bem cortados, membros dos partidos conservadores. O precedente foi quebrado por Vázquez, um médico de esquerda.

Analistas acreditam que um governo de Mujica, mais progressistas que Tabaré, representaria um aprofundamento (para não utilizar a palavra radicalização, que tanto assusta o eleitorado conservador) das transformações promovidas pelo atual presidente.

Mujica confronta a persona tradicional da política uruguaia, e tenta se aproximar culturalmente da população média. Carismático, é adepto de dois grandes hobbys uruguaios: andar de lambreta e criticar os argentinos.

Para Graciela Garcia, coordenadora de campanha de Mujica, os rompantes do candidato são parte de sua grande capacidade comunicativa: “Mujica fala a mesma linguagem do povo”, afirma. “Em geral, as populações são movidas por grandes líderes, e é Mujica quem faz este papel hoje no Uruguai. As pessoas querem falar com ele, tocá-lo, pedir um autógrafo”.

Graciela define a possível transição de Tabaré para Mujica como um “aprofundamento da mudança”: “Tabaré foi um bom presidente, e Mujica vai manter a mesma linha de trabalho. A diferença é que a preocupação fundamental dele é a questão agrária. Mujica vai lutar por justiça social e realizar reformas em educação, saúde e trabalho. As mudanças que se iniciaram com Tabaré Vázquez precisam continuar”, defende.

Mais que o sucessor de Vázquez, as próximas eleições definem o futuro da coalizão em que ele e Mujica se abrigam. "Se a Frente Ampla permanecer no governo, vai marcar um ciclo de reformismo na política uruguaia", diz o doutor em ciência política Miguel Serna, da faculdade de Ciências Sociais da Universidade da República. "Se acontecer o contrário, vai haver um freio no processo de reformas, que tem a ver com uma volta ao passado e ao tradicionalismo na política", afirma, sobre o cenário improvável.

O segundo colocado nas pesquisas é o ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995), do Partido Nacional. A permanência de um alto índice de indecisos às vésperas da votação é um dado que chama a atenção no Uruguai. A tendência mais comum em eleições é que o número de indecisos se reduza com a proximidade do pleito. Para o professor Serna, a explicação para o fenômeno pode estar no "voto envergonhado", do "eleitor que já se decidiu, mas não declara".

Serna diz que "é preciso lembrar que os candidatos desta eleição vão de um extremo ao outro na história democrática do Uruguai. De um lado, está Mujica. De outro, o filho do ditador que deu o golpe [em 1973]", diz. O candidato Colorado, que ocupa o terceiro lugar nas pesquisas, é Pedro Bordaberry, filho do presidente Juan Maria Bordaberry (1972-1976).

Se no próximo domingo nenhum dos candidatos tiver 50% mais um dos votos emitidos (incluídos brancos e nulos), haverá segundo turno em 29 de novembro. Hoje, esse seria o cenário mais provável. Sondagens situam Mujica com 45% das intenções de voto, Lacalle com 35% e Bordaberry com 10%.

Fonte site  Vermelho.