Suprema Ganância: Dinheiro para nós não tem, mas para os deputados não falta!

CÂMARA
Suprema ganância
Deputados aprovam na CCJ proposta que equipara salários de congressistas e do Executivo aos dos ministros do STF. E já tramita na Casa um projeto de elevar os vencimentos da Corte
Izabelle Torres
Isabella Souto- CB

Os deputados federais querem acabar com o desgaste diante da opinião pública em torno dos reajustes dos próprios salários, sem no entanto deixarem de inchar as contas bancárias todos os anos. Encontraram a saída em uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) aprovada ontem na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que formaliza a equiparação dos valores pagos a congressistas e integrantes do Executivo aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Dessa forma, os parlamentares não precisarão mais propor e discutir projetos separadamente. Vão apenas votar as propostas e os pedidos de reajustes encaminhados pelos integrantes da Corte e se beneficiar deles automaticamente.

Desde fevereiro, os R$ 26.723,13 pagos aos integrantes do STF passaram a ser o valor dos salários dos deputados, senadores, da presidente da República, do vice-presidente da República e dos ministros do Executivo. Uma equiparação extraoficial, que vai passar a ser lei depois que o Congresso aprovar a matéria. “Nossa ideia é acabar com essa discussão anual e oficializar uma situação mais justa. Não há motivos para diferenciar os salários dos integrantes dos poderes da República. É uma garantia de tratamento igual a todos”, diz o autor da PEC, Nelson Marquezelli (PTB-SP).

Entre as vantagens citadas informalmente entre os deputados que votaram ontem a favor da tramitação da matéria — e insistiram na necessidade de dar celeridade ao projeto — está a garantia de um novo reajuste salarial iminente. É que, desde agosto do ano passado, tramita na Casa um projeto apresentado pelo presidente do STF, Cezar Peluso, que propôe elevar o salário dos ministros dos atuais R$ 26.723 para R$ 30.675. O texto prevê ainda uma política contínua de reajuste anual nos meses de janeiro, sem a necessidade de aprovação de propostas pelo Congresso.

Ao aprovar a proposta do STF, os deputados estariam formalizando também uma política salarial para eles mesmos. “Estamos defendendo a aprovação da PEC por uma questão de justiça e para legalizar a situação salarial dos poderes. Não estamos tratando de reajustes ou do projeto do STF. Qualquer discussão sobre esse assunto só deve entrar na pauta no fim do ano”, afirma Marquezelli.

Limites mantidos
O texto da PEC acaba com o efeito cascata imediato em estados e municípios, estabelecendo que depois dos reajustes federais, o efeito só poderá ocorrer por meio da edição de leis específicas. Mas os limites dos vencimentos continuam sendo os previstos na Constituição atualmente. Dessa forma, com base no salário pleiteado pelos ministros do STF, de R$ 30.675, as assembleias legislativas dos estados poderão editar normas regionais estabelecendo os vencimentos dos seus integrantes em até R$ 23.006,25 nos estados, ou 75% dos valores federais.

Adotado o teto, em Minas Gerais o custo extra estimado com os 77 deputados será de R$ 228,2 mil a cada mês. Na Câmara Legislativa, os 24 deputados distritais custarão R$ 71,1 mil extras.

Se a PEC que equipara todos os cargos de comando nos Três Poderes for aprovada em plenário e no Senado, o impacto financeiro da proposta do STF que tramita na Casa seria de mais de R$ 82,5 milhões por ano, considerando os percentuais máximos estabelecidos pela proposta para os vencimentos dos políticos nos estados e nos municípios.

Para o relator da PEC na CCJ, deputado Arthur Oliveira Maia (PMDB-BA), a proposta em discussão é boa e promove isonomia. “A própria Constituição atribui prerrogativas comuns às autoridades elencadas na proposta, como a iniciativa de leis e o direito de serem processados e julgados originalmente pelo STF”, argumenta. A matéria será analisada por uma comissão especial e encaminhada ao plenário da Câmara. A depender dos discursos de ontem, uma tramitação que deve ser célere, ao contrário do que acontece com a maior parte dos projetos na Casa.

Entenda as mudanças

» O salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) é hoje de R$ 26.723,13, valor adotado como teto do funcionalismo público.

» O contracheque dos ministros serve também para o cálculo dos vencimentos no Legislativo. Projeto em tramitação no Congresso prevê reajustar o valor dos vencimentos dos titulares do Supremo para R$ 30.675

» Os 81 senadores e os 513 deputados federais já recebem o mesmo valor dos ministros, embora lei federal diga que o contracheque deles não pode ultrapassar 90,25% do teto. Se aprovada a PEC , eles legalizarão a prática adotada hoje. De quebra, passarão a ganhar os mesmos R$ 30.675 se o novo vencimento do STF for aprovado.

» O subsídio dos deputados estaduais não pode ultrapassar 75% do que é pago em Brasília, ou seja, R$ 20.025

» Elevando o salário dos 594 parlamentares federais para R$ 30.675, o gasto anual a mais, com cada um deles, será de R$ 59,6 mil. Um total de R$ 35,4 milhões a mais por ano levando em conta todos eles.

» Nas assembleias legislativas e na Câmara Legislativa do DF, o efeito cascata para os 1.059 deputados estaduais e distritais significaria um rombo extra de R$ 47.081 milhões anuais. Esses valores levam em conta o décimo-terceiro salário e as duas verbas de paletó.

Fonte: Correio Braziliense

Postado por Fabiano Rosa e Meribel Nunes – Coordenadores