Greve dos técnicos de 2011: uma reflexão sobre a derrota

Depois de mais de 90 dias de mobilização, a greve dos servidores técnico-administrativos da UFRGS e da UFCSPA , mesmo com a orientação do comando nacional de greve de continuidade, foi encerrada em 06 de setembro de 2011. O resultado: nenhum ganho e uma tênue perspectiva para 2013. O momento é de derrota para toda a categoria e exige reflexões que preparem ações futuras. Precisamos refletir sobre erros e acertos, perdas e ganhos do movimento, para colher dessa derrota lições que permitam vitórias em movimentos futuros.

 

Se teve alguma coisa de positivo no movimento grevista, podemos destacar principalmente a adesão dos novos colegas, que mesmo em estágio probatório participaram ativamente das atividades de modo criativo e combativo, bem como a retomada da mobilização da UFCSPA como não se via a vários anos. Além disso, o movimento angariou o apoio dos reitores. Os conselhos universitários da UFRGS e UFCSPA aprovaram apoio às reivindicações dos técnicos, a ANDIFES se manifestou e interviu a favor dos técnicos. Outra vitória foi angariar a disposição do Ministro Fernando Haddad, da Educação, bem como de parlamentares do PT e do PCdoB para mediar o conflito com o MPOG.

 

Por que fomos derrotados?

 

Mesmo esses pontos positivos não foram suficientes para a vitória. Pensamos que faltou uma análise mais detida da complexa realidade e das universidades brasileiras em particular. Uma parcela das lideranças locais e nacionais jogaram no “tudo ou nada”, não compreenderam o caráter do governo Dilma, as limitações de uma greve dos técnicos administrativos em educação nos dias atuais, e por conseqüência os caminhos a trilhar.

 

É evidente que o atual governo é formado por uma ampla coalizão de centro-esquerda e portanto carrega inúmeras contradições. Só para exemplificar, ao mesmo tempo que corta orçamento para garantir os compromissos com o capital financeiro rentista, investe como nunca na ampliação das Universidades públicas e dos IFET’s, com o objetivo de alavancar o desenvolvimento com distribuição de renda.

 

Mas as lideranças hoje majoritárias na AssufrgS e com grande participação na FASUBRA preferem a simplificação. “Dilma é má”, ela e todos que de alguma forma simpatizam com seu governo, continuador de Lula, são inimigos e pronto!

 

Por não ter clareza do cenário envolvido, essa parcela de lideranças que hoje é maioria na AssufrgS participou decisivamente para que o movimento cometesse três erros fundamentais:

 

Entrar em greve no dia 06 de junho, um dia antes de Reunião marcada com o Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão (MPOG,) mesmo diante de documento assinado por este ministério e o Ministério da Educação (MEC) comprometendo-se com a negociação;

 

Não suspender o movimento grevista no dia 05 de julho, desrespeitando a decisão do Comando Nacional de Greve e não apostando na negociação como estavam fazendo os docentes e outras categorias do serviço público federal, mesmo tendo sido assinado um segundo documento do governo comprometendo-se a negociar;

 

Especialmente na UFRGS e na UFCSPA, sair da greve no dia 06 de setembro, desacatando mais uma vez o CNG, que orientava o contrário, transmitindo a mensagem negativa de que a unidade não é importante para o movimento.

 

Não faltou garra de quem lutou até o fim. Mas houve precipitação na deflagração da greve, faltou bom-senso para não suspender o movimento e mais uma vez faltou sensibilidade para sair da greve. Nos momentos em que essas decisões foram tomadas apresentamos nossa opinião, mas infelizmente não conseguimos convencer a maioria que estava reunida. O resultado das decisões equivocadas insufladas por lideranças radicais infelizmente não poderia ser outro, senão a derrota de toda a categoria, que amargará o ano de 2012 sem aumento.

 

“Precisamos todos rejuvenescer” Belchior

 

As derrotas não podem nos fazer desanimar jamais, mas devem nos servir de lição para que nos traga vitórias mais adiante. É preciso retomar a credibilidade da ASSUFRGS e da FASUBRA. Saudamos os combativos 400 ativistas que entraram em greve na UFRGS e na UFCSPA, participaram das atividades, pegaram chuva, sol, acordaram cedo, dormiram tarde, acamparam, deram grandes demonstrações de empenho em nome de uma causa coletiva. Sua luta, no entanto, não conseguiu mobilizar o restante dos técnicos, nem sequer grande parte do conselho de delegados que não participou da greve, nem as outras categorias, que não entraram em greve. A Universidade não parou em nenhum momento. Mesmo com o sacrifício pessoal dessa parcela valorosa de ativistas, corremos o perigoso risco de passar a mensagem que estes ativistas em greve seriam desnecessários, uma vez que não pararam a Universidade e sequer prejudicaram seriamente seu funcionamento. Também corremos o risco de transmitir a mensagem errônea de que aqueles que não fizeram greve não são importantes para a luta, ou ainda pior, que seriam “inimigos” da categoria, como querem acreditar uma meia-dúzia de líderes sectários do movimento.

 

Não podemos cair na desesperança, na cisão destrutiva criaando outras entidades. Não existe vitória de todos os técnicos sem luta coletiva. Essa ideia não pode morrer. Como diz a música de Belchior, “precisamos todos rejuvenescer”. Desistir jamais. Se não deu certo desse jeito, é sinal de que precisamos de novas idéias. Sejam bem-vindos os novos servidores, com suas idéias novas. Sejam bem-vindos os antigos princípios que se encontram na experiência dos mais antigos. A aliança do novo e do velho vai rejuvenescer nosso movimento, e prolongá-lo para muito além de nossas vidas funcionais. E viva a unidade dos servidores em torno de vitórias futuras que gestaremos pacientemente dialogando no trabalho coletivo.

 

Como militantes da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e membros da coordenação da AssufrgS, embora minoritários nesta, não poderíamos deixar de expor fraternalmente, mesmo que de forma resumida, nossa visão crítica da condução do movimento. Em todo o momento participamos e demos nossa opinião. Continuaremos participando, convictos de que novos momentos virão, e que todos aprendendo com os erros poderemos conquistar ganhos reais para toda a categoria.

 

Professores universitários e CONDSEF assinaram acordos com o governo

 

A prova de que classificar o governo como “mal” é um exagero é a de que outras categorias conseguiram negociar avanços. Enquanto nós servidores das universidades ficamos três meses medindo forças com o governo, não sendo recebidos sequer para negociar, os demais servidores negociavam e elaboravam um acordo. No prazo final para inserir mudanças no Orçamento (31 de agosto) a Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (CONDSEF) bem como o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES) e o Fórum de Professores das Instituições Federais de Ensino Superior (PROIFES) já tinham assinado seus acordos com o governo. Isto significa que eles terão aumento para 2012 e nós não.

 

Acordo dos docentes

 

 

 

 

Na proposta apresentada e assinada pelas entidades dos docentes está previsto: aumento de 4% sobre o Vencimento Básico (VB) e sobre a Retribuição de Titulação (RT); incorporação das gratificações GEMAS para os docentes do Magistério Superior e GEBDT para os professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, a partir de março de 2012. No documento final, consta também o compromisso do governo em reestruturar a carreira docente, uma reivindicação da categoria que está sendo negociada desde 2009.

 

 

Acordo dos servidores do Executivo

 

Com o acordo da CONDSEF serão contemplados 420 mil servidores de 12 carreiras. Os índices variam de 2,3% a 31%. Os primeiros acordos assinados entre o Ministério do Planejamento e a Condsef (Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal) contemplaram os servidores do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e do Ministério da Ciência e Tecnologia.

 

 

Participação

 

Esta é nossa opinião, que manifestamos no sentido de contribuir para a retomada das mobilizações e construção de um novo momento para os técnicos. Você concorda com esta avaliação? Deixe seu comentário, participe. Com a sua ajuda vamos construir um momento de vitórias para a categoria.

 

 

Autores: José Luis Rockenbach (Neco); Joana de Oliveira e Igor Corrêa Pereira, coordenadores da AssufrgS e do Núcleo da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) na UFRGS.

Publicado por Igor Corrêa Pereira

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