Inundação danifica acervo de biblioteca da Ufrgs

FONTE/MATÉRIA:  Jornal do Comércio

FOTO PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC

Uma inundação no fim de dezembro gerou um cenário caótico em uma das bibliotecas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) situadas no Campus do Vale. O rompimento de um cano no prédio onde fica a Biblioteca Setorial das Ciências Sociais e Humanidades (BSCSH) provocou o alagamento de parte do acervo de quase 200 mil volumes (180 mil somente de livros), atingindo a área restrita onde são guardadas obras raras, muitas de literatura gaúcha, coleção da Filosofia e títulos de pesquisa de pós-graduação. Além disso, o mobiliário existente na sala de estudos foi danificado e não poderá ser reutilizado, segundo a direção do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).

No local, que deve ficar fechado para retiradas até o fim de fevereiro, a ordem é reverter danos. A cena é inacreditável para quem estava acostumado a frequentar a unidade. Na véspera do Natal, no dia 24, no recesso das festas, acredita-se que ocorreu o incidente no encanamento gerando infiltração na área das vigas, sobre parte das estantes no piso térreo e sala de estudos. Na manhã do dia 26, funcionários voltaram ao trabalho e foram surpreendidos pelo estrago. Estima-se que 10% do acervo tenha sido atingido, mas não há dimensão ainda das perdas. Boa parte dos livros, aposta a direção do IFCH, poderá ser restaurada ou substituída (casos de títulos mais recentes). 

Agora livros de todos os tamanhos e idades estão espalhados pelo chão, abertos para arejamento. Funcionários precisam virar páginas manualmente para facilitar a recuperação. O balcão de empréstimos foi tomado pelo acervo, despejado das estantes. Muitos ostentam mofo, mesmo que o equipamento de ar condicionado esteja sendo mantido funcionando 24 horas para vencer a umidade e manter a temperatura mais amena. 

Nas estantes de metal, gotas de água ainda escapam sob os livros remanescentes. O bibliotecário Nestor Sanders evita manusear coleções que estão grudadas para impedir mais danos. Na sala de estudos, que abrigava mesas e cadeiras, um grande varal foi montado para pendurar centenas de livros e acelerar a retirada da umidade. “Virou a enfermaria”, descontraiu um dos funcionários, que se dedicam a recuperar e amenizar os danos da inundação. 

Durante o dia, os técnicos não param, usam máscaras cirúrgicas, luvas e carregam os volumes de um lado para outro, tentando organizar o caos, identificar os “pacientes” por nível de gravidade. A enfermaria está superlotada. “Mesmo os que se recuperarem ficarão com cicatrizes”, ilustra o bibliotecário Nestor Sanders, que localiza em meio aos “feridos” edições de um dicionário francês do século 18. Muitos colegas de Sanders foram convocados das férias para o mutirão. Equipes de outras bibliotecas estão auxiliando e orientando no socorro mais adequado “às vítimas” da inundação. 

Na história da biblioteca, é o segundo episódio que gerou sérios danos ao acervo. Em 1993, um incêndio, até hoje não esclarecido, atingiu uma das áreas da unidade. A bibliotecária aposentada Maria de Lourdes Mendonça chegou de surpresa ontem ao prédio e não acreditou ao se deparar com a cena. “Estou impactada só de olhar e recordar o incêndio de 1993, que não sei se foi pior, pois tinha fogo e água”, confrontou Maria de Lourdes. Enquanto perambulava em meio aos livros, a aposentada lamentava que a coleção especial havia sido atingida, mas não esmoreceu. “O sentimento é pela perda cultural, de trabalho e organização, isso não têm preço. Mas dá para recuperar tudo”, incentivou a veterana.  

A BSCSH é a unidade mais movimentada entre as 29 bibliotecas setoriais da Ufrgs, que somam 710 mil livros. O motivo é óbvio: ensino e pesquisa de Ciências Humanas demandam muita leitura, lembrou a diretora do IFCH, Soraya Côrtes. “Estamos buscando solução para garantir que o acervo, de grande valor para a formação das áreas, tenha melhor instalação”, adiantou Soraya, que pediu à área de manutenção da universidade para retirar o encanamento do nível superior como prevenção. Além disso, o IFCH buscou assessoria da Faculdade de Arquitetura para definir um projeto prevendo estrutura mais adequada e confortável aos usuários. Foi aprovado projeto de construir uma biblioteca reunindo as unidades setoriais do Campus do Vale, mas não há data de execução, pois o empreendimento depende de licenças.   

Para ler a íntegra da matéria, acesse Jornal do Comércio

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