Servidores federais debatem a conjuntura da campanha salarial 2015

Mais de 350 representantes de diversas categorias do funcionalismo público federal se reuniram dias 31 de janeiro a 01 de fevereiro em Brasília (DF) na Reunião Ampliada dos SPF. Em pauta, definição dos eixos da campanha unificada para 2015 e a agenda de mobilizações e lutas. Em debate, a conjuntura política e econômica de um ano que promete desafios grandes aos interesses do serviço público federal. Pedro Armengol representou a CUT, João Paulo Ribeiro a CTB, Bernadete Menezes Menezes a INTERSINDICAL e Paulo Rizzo a CSP/CONLUTAS.

Se tributar as grandes fortunas, o dinheiro aparece!

Pedro Armengol criticou as medidas do novo governo com o pretexto de conter a crise econômica por representarem ataques aos trabalhadores. “(…) Isso é uma barbeiragem da economia”, observou ele. “(…) No momento que você desestimula o consumo, você está desestimulando a arrecadação do Estado, já que o problema na ótica deles é a falta de dinheiro. Na nossa ótica não é. Nós [Brasil] somos a 7ª economia do mundo, o problema não é econômico ou financeiro, o problema é o das prioridades de ação”, critica.

Armengol fala ainda que os trabalhadores não podem ficar na defensiva e devem contra-atacar apresentando sua pauta. “Inclusive com a reivindicação de reformas, como por exemplo a reforma tributária. Se o país tem problema de arrecadação, vamos discutir a reforma tributária. Vamos taxar o capital, porque o capital nesse país não é tributado, só quem é tributado é o trabalho. As grandes fortunas e patrimônios não pagam imposto. Vamos discutir algo que esse fórum faz com muita qualidade, que é a questão dos juros da dívida. Se hoje você tributar as grandes fortunas, logo aparece dinheiro”, rebate.

 Ele também defende que uma das pautas deva ser a reforma política. “Dois terços dos deputados e senadores são representantes do capital. Sem reforma política que mude esse modelo de eleição que é dado hoje, que favorece a corrupção, por causa do financiamento das campanhas por empresas, a situação não muda”, avalia.

“Nós trabalhadores do serviço público federal somos um dos alvos dessas visões conservadoras da economia. Nós teremos que divulgar que o Brasil tem dinheiro sim, o que devem mudar são as prioridades, e que nós somos trabalhadores e merecemos uma parcela dessas prioridades. Com muita unidade, podemos fazer uma mobilização mais vitoriosa do que 2012”, finalizou Armengol.

Campanha salarial por política salarial permanente

João Paulo Ribeiro, representante da CTB, avalia que a composição do Congresso Nacional, que teve aumento dos representantes dos banqueiros, empresários e latifundiários, influenciou a composição do novo governo. A indicação dos nomes de Cátia Abreu, representante dos latifundiários, e Joaquim Levy, economista representante do mercado financeiro, se dáo no marco do Congresso mais conservador das últimas décadas.

 “A correlação piorou, são 250 deputados e senadores do lado dos empresários. E os trabalhadores? E o campo social? Nós temos 50 de 530 deputados, conforme atesta o DIAP”, lamentou João Paulo. Diante desse cenário, ele defende a unidade do Serviço Público Federal em torno de uma mobilização que tenha como eixo o direito a negociação coletiva e política salarial permanente.

 “As ações políticas feitas na unidade do Serviço Público Federal em chamar campanha salarial exigindo que tenha política de negociação, exigindo que tenha negociação coletiva, contra os desmandos que estão acontecendo de tentar acabar com o direito de greve, de negar a negociação coletiva, a política salarial e impor um arrocho fiscal e retirada de direitos sociais. A única alternativa que a CTB tem é apontar o caminho da unidade na ação, a construção forte de mobilização, e se preciso for, vamos a greve geral dos servidores públicos federais”, conclui.

Nós não deixaremos acabarem nossos direitos!

A Intersindical, representada pela companheira Berna Menezes, levantou que a conjuntura está polarizada. Se é verdade que os setores de direita se fortaleceram, os movimentos sociais também tem dado demonstrações de força como as greves da Wolks, do Comperj, dos professores do Paraná. As mobilizações contra o aumento da passagem de ônibus já estão mostrando que o ano não será tranquilo. A campanha salarial dos Federais não pode esquecer o clamor das ruas que em 2013 levou milhões de jovens a reivindicar melhores serviços públicos. “Queremos aumento, somos contra a terceirização para manter a universidade pública como um dos melhores serviços públicos ofertado pelo Estado brasileiro”, afirma Berna. “Queremos ampliar e melhorar os serviços públicos contra o desmonte do estado brasileiro e abertura aos monopólios de serviços privados. Como o povo grego que luta contra o sistema da dívida, nós não deixaremos acabarem com nossos direitos!”.

Os trabalhadores não aceitam pagar a conta da crise

Paulo Rizzo da CSP/CONLUTAS entende que os ataques aos trabalhadores e movimentos sociais tem tido respostas a altura. “Nós começamos esse ano com respostas de lutas.  Houve aumento de tarifas? Teve respostas com mobilizações em todo o país. Houve demissões [dos funcionários das montadoras de SP]? Teve greves dos trabalhadores, inclusive o caso que já foi mencionado aqui da Volkswagen, que [os trabalhadores] conseguem vitória na sua luta. Nós tivemos as Medidas Provisórias [MP 664 e 665]? Houve mobilizações das centrais no dia 28, embora não tenha sido uma grande mobilização, ela existiu. O ano de 2015 começou com ataques, mas também teve respostas de mobilização”, afirma Rizzo.

“É um momento de politização, onde as contradições começam a ficar evidentes. Se você pegar por exemplo a crise hídrica, está ficando cada vez mais evidente que não é um produto de um fenômeno natural, de seca ou do que for. Ela é um produto de um processo de privatização do serviço público. Um empresa como a SABESP, por exemplo, teve lucros todos esses anos, sem que houvesse investimentos em novos mananciais. Os efeitos da privatização se fazem sentir em todos os lugares em que os serviços foram terceirizados” argumenta.

Ele entende que o pensamento predominante no governo é o de manter o superávit primário, e que numa situação de crise alguém deverá pagar essa conta. “O governo tem que responder às demandas populares, mas para responder a elas, o governo vai continuar tentando jogar iniciativa privada contra servidor público, vai tentar dividir a classe trabalhadora. E nós temos que ter o esforço não só da unidade das nossas categorias do serviço público, como do conjunto da classe trabalhadora, para não pagar a  conta da crise”.

 Rizzo anunciou que por iniciativa da CSP CONLUTAS e outras entidades, houve reunião no dia anterior a reunião ampliada do Fórum dos SPFs, que teve como pauta a unidade na ação dos trabalhadores. “O eixo que a gente acredita que deve unificar as centrais sindicais e todos os movimentos que é ‘Os trabalhadores não aceitam pagar a conta da crise’. Isso que busca expressar todo o nosso esforço e nossa disposição de luta de que os trabalhadores não aceitam pagar o ônus da crise”.

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