Salário da mulher está 75 anos atrás do rendimento masculino

Pesquisa publicada na edição nº 24 da revista Visão do Desenvolvimento, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), de autoria do economista Antonio Marcos Ambrozio, analisa a evolução do emprego e da renda sob a perspectiva de gênero entre 1996 e 2005.

Com base em dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e da Rais (Relação Anual de Informes Salariais), a pesquisa concluiu que a participação feminina no mercado de trabalho tem aumentado, no entanto, as diferenças salariais continuam marcantes. O estudo aponta que ao longo dos últimos 10 anos diminuiu a discrepância salarial, mas, a continuar no mesmo ritmo, seriam necessários 75 anos para eliminar a desigualdade salarial entre homens e mulheres no país.

Mais empregos

De acordo com os dados da Rais, a participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou na última década, de pouco menos de 38%, em 1996, para 39% em 2000, e 40% em 2004, mesmo com o país tendo apresentado dois ciclos antagônicos de empregos nesse período. Segundo o Caged, entre 1996 e 1999 houve a destruição de mais de 1 milhão de postos de trabalho, 90% desses entre a população masculina. De 2000 a 2005, em especial após 2003, a tendência de perdas de postos de trabalho se inverteu e o Brasil gerou cerca de 5,5 milhões de empregos formais. No período de expansão registrado a partir de 2000, a maior parte do saldo de empregos criados – 59% – foi destinada aos homens. Em todo esse período, a tendência é de aumento do emprego qualificado e redução dos postos que não exigem qualificação profissional e educacional.

A participação feminina no mercado de trabalho se deu com maior intensidade nas ocupações mais qualificadas (que exigem ensino superior ou médio completo). “Entre 1996 e 1999, enquanto os homens com esse nível de escolaridade sofreram uma perda líquida de emprego, houve uma criação líquida positiva – embora pequena – para as mulheres. Já no período 2000-2005, quando o saldo líquido é positivo para ambos os sexos, a maior parte das vagas foi absorvida pelas mulheres. A participação feminina foi de 56%”, aponta o estudo.

Salário desigual

O salário médio, tanto para homens como mulheres, teve pequeno aumento entre 1996 e 1998, apresentou queda em 1999, voltou a crescer nos dois anos seguintes e teve nova queda brusca em 2002. A partir daquele ano se recuperou gradativamente, porém, a remuneração média masculina continua maior. Os salários reais médios entre 1996 e 2005 foram de R$ 614 para os homens e R$ 556 para as mulheres. A diferença, de R$ 58, chegou a ser de R$ 68 entre 1996/1999 e caiu para R$ 52 entre 2000/2005. Ambrozio avalia que se a diferença salarial continuar caindo nesse ritmo serão necessários 75 anos para os salários de homens e mulheres se igualarem.

Do ponto de vista da escolaridade, o rendimento, independentemente do gênero, aumenta conforme maior o grau de instrução, o que não chega a ser nenhuma novidade; mas a pesquisa aponta, no entanto, que o maior diferencial se dá entre trabalhadores de escolaridade maior, acima do ensino médio: nesse segmento as mulheres recebem apenas 63% do salário pago aos homens. Para trabalhadores com grau de instrução até a quarta série, a diferença média fica em 82% da remuneração dos homens.

Para Maria Ednalva Bezerra, coordenadora da Secretaria Nacional sobre a Mulher Trabalhadora (SNMT/CUT), existem três esferas que se complementam para explicar o fenômeno da menor remuneração para o trabalho feminino. “Há um componente cultural permeado por séculos de dominação de gênero, que agrega um valor menor ao trabalho feminino. Quando o movimento feminista começou a questionar essa situação, ideólogos do sistema tentaram mostrar que o trabalho feminino era ‘mais leve’ do que o masculino, portanto, de menor valor. Historicamente essa tese não se comprovou; depois, disseram que as mulheres tinham menor grau de instrução, o que também não corresponde à realidade, mas o preconceito cultural em relação ao trabalho feminino persiste. Um segundo aspecto é a necessidade de políticas públicas e de pressão por parte das entidades sindicais para criar uma legislação que iniba esse tipo de prática e, em terceiro lugar, e para mim o mais importante, é o fortalecimento da organização política das mulheres para superar esses desafios”.

Fonte: Agência CUT