Jornal Zero Hora sugere troca do vice de Yeda no Rio Grande do Sul

Para uma candidatura que estaria com mais de 30 pontos de vantagem sobre seu adversário, segundo pesquisa Ibope divulgada no domingo, é no mínimo estranho o pânico que se instalou na campanha de Yeda Crusius (PSDB) no Rio Grande do Sul. O pânico tem nome e sobrenome: Paulo Feijó (PFL), vice na chapa da candidata tucana.

A entrevista que Feijó concedeu ao jornal Zero Hora no domingo fez um estrago tão grande que levou o próprio jornal, nesta segunda, a sugerir a substituição do candidato. O vice de Yeda é incontrolável. Na entrevista, Feijó tentou desmentir sua posição favorável à privatização de empresas estatais, em especial o Banco do Estado do RS (Banrisul), dizendo que nunca falou em privatização. Mas não conseguiu se controlar e chamou o Banrisul de “cabide de emprego” de políticos, atacando diretamente o senador reeleito do PMDB gaúcho, Pedro Simon. Uma lambança total.

Nesta segunda, Zero Hora publicou matéria de página inteira dizendo que “vice de Yeda constrange coligação”. A reportagem traz um box com o sugestivo título: “Vice pode ser trocado até 24 horas antes da votação”. “A lei eleitoral prevê que a substituição eventual de um candidato a cargo majoritário pode ser feita até 24 horas antes da eleição. Segundo a legislação, um candidato pode ser substituído em casos de renúncia, inelegibilidade ou morte”, assinala ZH.

Descartando-se as duas últimas possibilidades, a hipótese levantada pelo jornal seria então a renúncia do candidato. Feijó foi desautorizado publicamente por uma nota paga publicada pelo presidente do PFL gaúcho, o deputado Onyx Lorenzoni. Além de ser publicada em jornais de Porto Alegre, a nota foi parar no próprio site da campanha da candidata tucana. Ela afirma: “Em relação a entrevista publicada na Zero Hora de domingo, página 22, do nosso filiado Paulo Afonso Feijó, o PFL vem a público esclarecer:

1- Nosso filiado tem uma posição histórica a favor da profissionalização do serviço público; No texto da entrevista para realçar e valorizar o funcionalismo público reafirmou sua convicção a esse respeito.

2- No entanto não deveria ter vinculado o Senador Pedro Simon ao critério de formação da diretoria do Banrisul, até porque, não existe nenhum grau de parentesco entre ele e qualquer diretor do banco.

3- O PFL/RS reconhece, assim como milhões de gaúchos, na figura do Senador Pedro Simon, um exemplo de ética e probidade, ao longo de sua extensa vida pública.

4- Portanto pedimos publicamente escusas ao Senador Pedro Simon pela inadequação da referida declaração”.

O conteúdo da entrevista

O ponto mais polêmico da entrevista é a resposta de Feijó ao tema do Banrisul. “O senhor acha que o Banrisul pesa no Estado”, pergunta ZH. Após ter dito que nunca falou em privatizar o banco, Feijó esculhamba o Banrisul, com direito a um ataque ao senador Pedro Simon (PMDB): “Acho que pesa. No sentido de que o Banrisul, há muitos governos, tem sido utilizado como cabide de emprego e partidarização do banco. O presidente do banco hoje é indicado pelo senador Simon, é sobrinho do Simon. Quem são os vice-presidentes do banco? Cargos políticos como a presidência. O banco tem de ser eficiente, tem de dar oportunidade aos funcionários de carreira. E não a uma pessoa que nunca dirigiu um caixa de boteco. E por que ele está lá? Porque é protegido do senador Simon”. Além do ataque direto a um possível aliado de Yeda, Feijó comete um erro grave: o presidente do Banrisul não é sobrinho de Simon. De onde ele tirou isso? Ninguém sabe.

As declarações do candidato do PFL foram feitas na véspera do encontro do PMDB que decidirá sua posição no segundo turno da eleição para o governo gaúcho. Apavorado com a entrevista de Feijó, Onix Lorenzoni, publicou, ainda no domingo, uma nota paga no jornal O Sul, desautorizando o ataque. Criticado pelo próprio partido, Feijó não se intimida e promete defender com galhardia o ideário neoliberal.

“O neoliberal é um novo liberal. Eu sou liberal há 20 anos. E prefiro ser neoliberal do que comunista”. Segundo Feijó, as estatais deixarão de ser um cabide de empregos e de indicações políticas. Ele só esqueceu de dizer que um destes cargos políticos era ocupado por Nelson Marchezan Jr., filho do falecido Nelson Marchezan, que até bem pouco tempo era diretor de desenvolvimento do Banrisul, cargo para o qual foi indicado, politicamente, pelo partido de Yeda. O PMDB reúne-se nesta segunda para decidir o que fazer. As declarações de Feijó serão um dos principais temas do encontro.

Fonte: Marco Aurélio Weissheimer – Agência Carta Maior