Fórum Social Mundial vai ao Quênia para reforçar presença na África

Desde 2001, janeiro é mês de Fórum Social Mundial. Neste período, milhares de pessoas de todo o mundo têm se juntado ao fluxo migratório altermundista rumo a Porto Alegre, no Brasil, Mumbai, na Índia, Bamako, no Mali, Caracas, na Venezuela, e agora Nairóbi, no Quênia, para construir o maior movimento de articulação e debates contra-hegemônico e antineoliberal da história.

O Fórum Social Mundial 2007, que acontece entre os dias 20 e 25 deste mês, já conta com cerca de 1200 atividades inscritas e, de acordo com os organizadores, são esperados até 80 mil participantes – número difícil de ser confirmado, porque a grande maioria deve se inscrever in loco e não antecipadamente, como tem ocorrido nas edições anteriores do FSM. Segundo o último levantamento, até agora estão credenciados cerca de 3 mil participantes não-africanos e 7 mil africanos, dos quais 60% são do Quênia.

Este ano, todas as atividades do FSM estarão concentradas em um único espaço – o centro esportivo Moi International Sports Centre, cerca de 17 km ou 1,5 a 2 horas do centro da Nairóbi. No local também será organizado o Acampamento Internacional da Juventude que, além de concentrar as atividades políticas da juventude, é uma opção mais barata de alojamento, com um custo de 10 dólares por dia (segundo informações de jornalistas que estão em Nairóbi, não é preciso levar barraca, apenas saco de dormir ou colchonete e cobertor. Tem água quente e tendas separadas para meninos e meninas).

Nas redondezas do estádio, também haverá espaço para organizações e movimentos provenientes de vários países africanos que chegarão em caravanas e montarão suas próprias tendas para baratear os custos. A maior parte das caravanas vem da Zâmbia, Tanzânia, África do Sul, Malawi, Moçambique e Angola em ônibus e até de barco.

O evento em si terá algumas novidades em relação às edições anteriores do FSM. Depois de uma larga consulta feita aos participantes do FSM em todo o mundo, a organização estabeleceu nove eixos temáticos – veja os detalhes na página www.forumsocialmundial.org.br – que serviram de referência para a inscrição de atividades (seminários, oficinas, conferências etc) por parte das entidades participantes (as chamadas atividades autogestionadas).

A novidade é que o Comitê Organizador também propôs uma série de atividades em parceria com o Conselho Internacional do FSM. Serão espaços de convergência mais ampla para aprofundar os debates sobre temas específicos – Dívida, Memória das lutas, Paz e conflito, Comércio, Mulheres, Conhecimento e informação, Meio ambiente global, Habitação, Soberania dos povos, Migrações, Trabalho, HIV/Aids, e Privatização dos bens comuns. E, por fim, no quarto e último dia do evento, reforçando a perspectiva de definição de “objetivos de ações”, as organizações deverão apresentar e socializar propostas elaboradas no decurso do Fórum.

Em resumo, o FSM terá a seguinte dinâmica: abertura com grande marcha no centro de Nairóbi e espetáculo de Martinho da Vila no dia 20; atividades auto e co-gestionadas nos dias 21, 22 e 23. No dia 24 pela manhã, ocorrerão assembléias de vários segmentos – em especial a tradicional Assembléia dos Movimentos Sociais – e serão sistematizados os debates dos dias anteriores. Pela tarde, serão organizados cinco grandes “fóruns de luta, alternativas e ações” para apresentar as propostas de ações referentes aos temas trabalhados, seguidos da marcha de encerramento.

Temas prementes

Depois de ter se aprofundado nas questões latino-americanas e asiáticas nas edições anteriores, o FSM deve expor as veias abertas da África no encontro deste ano. Em visita ao Brasil na última semana, o ativista Ntsie Bernard Mohloai, membro do Comitê Africano do FSM pela África do Sul, explicou que os temas aids, as migrações e as guerras no continente deverão ter destaque especial.

Atualmente, a região conhecida como “chifre da África” – formado por Eritréia, Somália, Etiópia e Quênia – vive um conflito agudo por conta de disputas pelo poder na Somália (com envolvimento da Etiópia e da Eritréia, e mais recentemente dos EUA, que bombardearam o país no início deste ano alegadamente para atingir núcleos da Al Qaeda). A Somália não tem um governo central desde 1991, quando bandos armados derrubaram o ditador Mohammed Siad Barre e, em seguida, voltaram-se uns contra os outros.

Os conflitos na região impedem inclusive o deslocamento de participantes do FSM por caravana por terra ou água pelo norte e oeste do Quênia, e toda a fronteira com a Somália está fechada.

Segundo Mohloai, este conflito e as últimas guerras em países como Serra Leoa, Ruanda, Angola, Libéria e República Democrática do Congo devem ser debatidas na perspectiva de apontar os atores originadores e fomentadores dos conflitos, ou seja, multinacionais que exploram as riquezas e recursos naturais e que utilizam divergências tribais como arma para defender seus interesses.

Fonte: Verena Glass – Agência Carta Maior