CUT e centrais sindicais mobilizaram 40 mil em Brasília nesta quarta-feira

“Nossa 4ª Marcha amplia a unidade de ação em defesa da manutenção e ampliação de direitos, da geração de emprego e distribuição de renda. É a maior Marcha que já realizamos, o que abre espaço para que o Congresso Nacional, o Tribunal de Justiça e o Palácio do Planalto ouçam as reivindicações dos trabalhadores e trabalhadoras, representados aqui por suas centrais sindicais”, afirmou o presidente nacional da CUT, Artur Henrique, na manifestação que reuniu 40 mil trabalhadores e trabalhadoras nesta quarta-feira, em Brasília.

O secretário geral da CUT, Quintino Severo, frisou que o exemplo vitorioso das três primeiras marchas, que garantiram uma política de valorização para o salário mínimo, deu maior estímulo à militância, que se somou em peso à mobilização nacional pela redução da jornada, mais e melhores empregos e pelo fortalecimento da Seguridade Social e das políticas públicas, bandeiras escolhidas como o mote deste ano.

Artur Henrique destacou ainda que a luta unitária da CUT, Força, CGTB, NCST, UGT e CTB pela ratificação das Convenções da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que estabelecem o direito de organização e de negociação do trabalho no setor público (151) e a necessidade de justificativa das demissões (158) é decisiva para sensibilizar o parlamento e o governo. Para ele, “é fundamental combater a alta rotatividade no emprego, assim como a terceirização e a precarização, a fim de garantir a valorização do trabalho”. Artur lembrou que o saldo da geração de empregos nos últimos anos é positivo, ao contrário dos anos de devastação neoliberal, mas que a rotatividade é grande. Assim, foram assinadas dez milhões de carteiras, mas 8,2 milhões de trabalhadores foram demitidos, boa parcela sendo recontratada por salários menores.

“As novas formas de produção e as novas tecnologias também têm permitido ganhos imensos de produtividade às empresas de uns dez anos para cá. Esses ganhos poderiam ser compartilhados com os trabalhadores e trabalhadores, por meio da redução da jornada. Além disso, a ratificação das Convenções 151 e 158 da OIT são formas de reestruturar o mercado e as relações de trabalho”, acrescentou o presidente da CUT.

Acompanhada pelo filho Hemanoel, de 5 anos, a comerciária Ivani Batisttela da Silva, de Florianópolis, disse que valeu a pena encarar as mais de 30 horas da viagem de ônibus. “Na Marcha, pudemos reivindicar os nossos direitos e denunciar os problemas que nos angustiam. No meu caso, é essa infelicidade do trabalho aos domingos no comércio, que traz muita dificuldade para a convivência de pais e filhos”, relatou.

A caminhada rumo à Esplanada dos Ministérios iniciou às 10 horas com gigantescos balões colorindo o cinza do dia nublado, enquanto faixas e pirulitos eram levantados, exigindo o fim do fator previdenciário e investimentos na saúde pública, gratuita e de qualidade, defendendo ainda a valorização dos serviços e dos servidores públicos, a legalização do aborto e o cumprimento da Lei Maria da Penha, que penaliza a violência contra a mulher. “Centrais unidas, jamais serão vencidas”, “Eu quero agora, eu quero já, eu quero ver o salário melhorar” e “Centrais, centrais, por direitos nacionais”, foram as palavras de ordem mais entoadas no percurso.

Ao lado das amigas Eli e Creuza, aos 85 anos, dona Norma Rodolfo da Silva esbanjava energia na longa caminhada do estádio Mané Garrincha até a frente do Congresso Nacional. Marcha que ficou mais longa pelo frio do começo da manhã aliado à chuva fina, que logo se transformou em sol escaldante, como costuma acontecer no dezembro da capital federal. Mas nada disso abalou nenhuma das amigas. “Já vim 15 vezes a Brasília e virei tantas quantas puder e forem necessárias para fazermos valer nossos direitos. Estou muito satisfeita com essa união das centrais, pois assim a gente tem mais força para reivindicar e conquistar”, declarou.

Tendo ao fundo o samba enredo 2008 da Unidos de Vila Isabel (RJ), cujo tema é Trabalhadores do Brasil, palavras de ordem se multiplicavam e ganhavam ritmo, ampliando a pressão pela reforma agrária e por mais apoio à agricultura familiar, pelo fim do Banco de Horas e por metas de geração de emprego e qualificação profissional no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O ato político em frente ao Congresso contou com a participação de inúmeros parlamentares, que manifestaram sua solidariedade com o movimento, enfatizando a sua importância para que a Câmara Federal aprove o acordo firmado pelas centrais sindicais com o governo, garantindo o seu reconhecimento legal e o custeio.

Em cima do palanque, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, se comprometeu a agilizar o Projeto de Lei de Reconhecimento das Centrais, recentemente aprovado por unanimidade no Senado com os votos dos relatores Paulo Paim (PT-RS), Francisco Dornelles (PP-RJ) e Lúcia Vânia (PSDB-GO).

Além disso, Chinaglia destacou a importância da redução da jornada de trabalho constitucional de 44 para 40 horas semanais. “Eu como presidente da Câmara me comprometo a colocar em rediscussão a questão da redução da jornada de trabalho, para que o Congresso, apesar das diferenças existentes atue para garantir avanços trabalhistas”, ressaltou.

Também no palanque, o senador Paulo Paim reafirmou seu “compromisso com a luta permanente pelo aumento do salário mínimo, pela redução da jornada de trabalho e pelo fim do famigerado fator previdenciário”.

Entre outros, manifestaram seu apoio à luta das centrais os deputados federais Vicentinho (PT-SP), Paulo Pereira da Silva (presidente da Força Sindical e do PDT-SP), Barbosa Neto (PDT-PR), Tarcísio Zimerman (PT-RS), Roberto Santiago (PV-SP), Cláudio Magrão (PPS-SP), Gonzaga Patriota (PSB-PE) e Daniel Almeida (PCdoB-BA).

No início da noite, cerca de 200 dirigentes sindicais foram recebidos pelo presidente Lula no Palácio do Planalto. Na oportunidade, Lula anunciou que está enviando ao Congresso Nacional a regulamentação das Convenções 151 e 158.

Fonte: Leonardo Severo e Isaías Dalle, de Brasília/Agência CUT