O síndico e o condomínio UFRGS. Artigo de Ilgo Wink.

 O síndico e o condomínio UFRGS

Já fui síndico de edifício. Fui eleito pelo voto ‘universal’ dos condôminos. Nem tanto por meus méritos ou por minha vontade de ser síndico, mas unicamente porque ninguém queria assumir o cargo, ainda mais sem remuneração ou qualquer contrapartida.

Na ocasião da minha eleição, houve quem cogitasse de chamar o fornecedor de gás, o sujeito que conserta o elevador, a mulher da faxina, o zelador. Todos poderiam votar. Todos que de uma forma ou de outro viviam no edifício, mesmo esporádica e transitoriamente. Enfim, gente que estava de passagem, sem maiores compromissos ou responsabilidades em relação ao passado, ao presente e ao futuro do nosso prédio, nosso condomínio.

É claro que a proposta foi rechaçada, mas alguns defensores do voto ‘universal’ sustentaram a idéia com longos e inflamados discursos, exalando um insuportável odor demagógico e oportunista.

Algo parecido com que o acontece na UFRGS há muitos anos. A cada eleição a questão do voto paritário é retomada como se dela dependesse a sobrevivência da instituição. Passado o processo eleitoral, o tema é varrido da pauta. Quatro anos depois, volta com toda a força.

Tempos atrás, questionei algumas lideranças da Assufrgs sobre esse assunto, porque considero inaceitável a atual ponderação, na qual nosso voto, o dos ‘administrativos’, vale quase nada em comparação ao dos professores. Nada foi feito, como se sabe.

Como num passe de mágica, o voto paritário ressurge das cinzas de novo. E aí vejo um acordo ser firmado às pressas, um acordo demagógico, porque nenhuma das lideranças nele envolvido quer ficar ‘mal’ com a comunidade acadêmica, em especial com alunos e funcionários (nesta ordem mesmo). Um acordo com a pretensão absurda de sobrepor-se à legislação. Um acordo, que todos os signatários sabiam, mas omitiam, seria usado ou não, conforme as circunstâncias. Sabiam, também, que, no final das contas, teria de prevalecer o estabelece a Lei.

E é assim que deve ser num estado democrático. Vamos mudar a lei, equilibrar os votos entre os ‘condôminos’, os funcionários administrativos e professores. Já os alunos – eu já fui um deles -, mesmo sendo a razão da existência de qualquer instituição de ensino, como estão de passagem por este ‘condomínio’, nem deveriam ter direito a voto.

Ilgo Wink, jornalista da UFRGS

As próximas contribuições serão incluídas num novo tópico "Eleições para Reitor" na lista "O Pensamento não tem fronteiras".