Dia de Luta contra demissões reúne movimento sindical e popular no Rio

Cerca de 600 pessoas participaram na tarde da quarta-feira, dia 11, do ato público em protesto contra as demissões na Vale e a flexibilização de direitos trabalhistas, em frente à sede da empresa, na Avenida Graça Aranha, no centro do Rio de Janeiro.

O ato foi organizado pela CUT e Conlutas. Contou com a presença do presidente da CUT, Arthur Henrique da Silva, e do coordenador nacional da Conlutas, José Maria de Almeida, o que foi considerado um importante marco para construção de lutas conjuntas, que consigam unificar os trabalhadores em torno dos grandes temas nacionais, um desafio que se impõe, em face do cenário sombrio pintado pela crise econômica.

A direção do Sindipetro-RJ também se fez presente, assim como representações de vários sindicatos e movimentos sociais. Em nome do Fórum contra a Privatização do Petróleo e Gás, Emanuel Cancella chamou a CUT e a Conlutas e se engajarem, efetivamente, na luta pela reestatização do nosso petróleo e gás, procurando somar forças, pois a pressão do capital internacional para controlar as riquezas do subsolo brasileiro aumenta a cada dia, sobretudo depois de anunciadas as promissoras reservas do pré-sal.

Um número significativo de representantes do Fórum contra a Privatização do Petróleo e Gás se integrou à manifestação. A faixa "Reestatizar a Vale e a Petrobras!" deu o tom desta participação, vinculando as demissões em massa e a flexibilização de direitos ao processo de privatização das empresas públicas que atingiu em cheio a Vale do Rio Doce e comeu pelas beiradas a Petrobras. Daí a palavra de ordem enfatizada pelo Fórum.

Conlutas saúda unidade na luta

O coordenador da Conlutas, José Maria de Almeida, saudou o ato contra as demissões na Vale, realizado no Rio, como um importante momento de unidade entre os trabalhadores, mostrando que é possível caminhar juntos, no interesse maior da classe trabalhadora.

Ressaltou que "foi um importante protesto contra as intenções da Vale de demitir e reduzir salários" e cobrou do governo federal uma Medida Provisória (MP) que garanta a estabilidade no emprego, para estancar a sangria que essas demissões representam:

"Com certeza, esse é apenas o primeiro de muitos atos unitários que ainda teremos que fazer, até os trabalhadores tomarem as ruas desse país. Só a mobilização de massas será capaz de frear e reverter os tempos sombrios que vêm pela frente".

CUT culpa herança de FHC

O presidente nacional da CUT, Artur Henrique, fez uma referência à vitoriosa passeata, na parte da manhã, em defesa do emprego, renda e direitos dos trabalhadores, na região do ABC, em São Paulo, organizada pelos trabalhadores metalúrgicos, um dos setores mais atingidos pelas demissões. Mas, em seu discurso, procurou responsabilizar o governo Fernando Henrique Cardoso, pelos frutos podres que os trabalhadores agora estão sendo obrigados a engolir:

"Foram os tucanos e "demos" que fizeram as reformas neoliberais baseadas na concepção do Estado mínimo. Ainda bem que sobraram empresas como a Petrobrás, a Eletrobrás, a CEF, o BNDES, etc. Já imaginaram se tivéssemos que enfrentar a crise sem esses instrumentos ?"

Afirmou, ainda, que essas políticas ainda não tiveram fim em alguns estados, como em São Paulo, onde o governador José Serra vendeu a companhia de transmissão de energia e a Nossa Caixa, único banco de fomento do estado. Também fez críticas ao presidente da Vale, por defender a flexibilização de direitos:

"É inadmissível a redução de salários, férias coletivas e corte de direitos. Lamentavelmente, o presidente da Vale tem a coragem de vir a público propor isso, como forma de enfrentar a crise. Mas ele não diz que a empresa que preside lucrou R$ 20 bilhões em 2007, outros R$ 20 bilhões em 2008 e, mesmo com os cofres gordos, já demitiu milhares de trabalhadores".

Nos EUA, mais de dois milhões já foram demitidos

A manifestação contou com a presença de uma sindicalista norte-americana, Carolyn Kagdin, da United Steel Workers (USW), que representa cerca de 1,2 milhão de trabalhadores do ramo do aço, mineração, petróleo, vidro, borracha e papel, tanto dos Estados Unidos quanto do Canadá. Carolyn traçou um panorama dramático. Disse que, no seu setor, as demissões já atingiram cerca de dois milhões de trabalhadores, desde que a crise econômica começou. Nos Estados Unidos, são demitidos, em média, 20 mil trabalhadores por dia.

A Vale, multinacional do aço, atua em cerca de 20 países, dentre os quais Moçambique, Canadá, França, Indonésia, Austrália, Argentina, Colômbia, Bolívia, Noruega, além do Brasil. Carolyn disse que os trabalhadores da Vale no Canadá só foram até agora poupados porque a empresa assinou um acordo, em 2007, comprometendo-se a não demitir num prazo de três anos (portanto, até 2010). Mas, em outros países, já vem aplicando a mesma política das demais empresas atingidas pela crise: demissões e redução de direitos.

A sindicalista enfatizou que a união dos trabalhadores é fundamental nesse momento. Aliás, nos diversos países em que a Vale está instalada, seus empregados já começam a se organizar em redes para buscar, juntos, formas de proteger o salário e o emprego.

Fonte: Agência Petroleira de Notícias