Readmissão do diretor do Sintusp integra a pauta das reivindicações. Juíza revoga liminar que o reintegrava à USP

A juíza Maria Aparecida Vieira Lavorini, da 26ª Vara do Trabalho de São Paulo, revogou nesta segunda-feira a liminar que ela mesma havia concedido ao ex-servidor da USP (Universidade de São Paulo), Claudionor Brandão,52, que determinava a volta dele ao cargo. O Tribunal Regional do Trabalho não deu detalhes a respeito do que ela alegou para rever a decisão que havia tomado. Procurado, Brandão não quis comentar o assunto.

                                                                    Leo Pinheiro/Futura Press


Diretor do Sintusp Claudionor Brandão

A USP havia sido comunicada da decisão na manhã de segunda-feira (15/6|). Em seguida os advogados da universidade enviaram documentos solicitando uma nova análise da magistrada. Brandão trabalhava na Prefeitura do campus Butantã da USP e foi demitido em dezembro de 2008 pela reitora Suely Vilela. Um dos cabeças do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) e da atual paralisação –que hoje completa 42 dias– ele já fez 12 greves e prega revolta armada.

Confronto

A readmissão de Brandão integra a pauta das reivindicações dos funcionários grevistas da USP. Os ânimos se acirraram na semana passada ao ponto de gerar um confronto entre a PM e estudantes na terça-feira (9). Na ocasião manifestantes teriam atacado os policiais militares com pedras e paus. O sindicato de funcionários, entretanto, nega que os manifestantes tenham iniciado e diz que a PM que deu início à briga ao atirar bombas de efeito moral. Os DCE também afirmou que a manifestação era pacifica.

De acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) o portão 1 de acesso à USP –localizada na rua Alvarenga– chegou a ser bloqueado pelos manifestantes por mais de uma hora. Porém, por volta das 19h a via havia sido liberada, informou o órgão. Os manifestantes pedem a reabertura das negociações com o Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas) e a retirada da PM do campus da USP.

Os grevistas querem reajuste salarial de 16%, mais R$ 200 fixos, além do fim de processos administrativos contra servidores e alunos que participaram de protesto anterior –que resultou em dano ao patrimônio. As negociações entre o Cruesp e o Fórum das Seis estão paradas desde 25 de maio. Na ocasião, um grupo de estudantes invadiu a reitoria após os reitores impedirem parte dos alunos e um sindicalista de participar da reunião.

Líder sindical na USP já fez 12 greves

Na pauta de reivindicações de funcionários grevistas da USP, o primeiro item, escrito em negrito e letras maiúsculas sob o título "questões políticas", é a "readmissão do diretor do sindicato Brandão". O Brandão em questão é o ex-servidor Claudionor Brandão, 52, um dos lideres do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) e da atual paralisação, que completa hoje 40 dias. Membro de um grupo denominado "Liga Estratégia Revolucionária", uma dissidência do PSTU, ele acredita que só com a revolução seja possível alcançar o comunismo.

Revolução armada? "Você viu as bombas do coronel Longo? Acha que é possível derrotar aquilo só com palavras?", diz, referindo-se ao confronto com a Polícia Militar na última terça na USP (saldo de dez feridos). O tenente-coronel Cláudio Longo dirigiu a operação.

                                                                Almeida Rocha/Folha Imagem

No episódio, Brandão foi detido por desacato e resistência à prisão. Ele afirma que apenas tentou dialogar com o policial que prendia um colega. Foi solto no mesmo dia, após a realização de um "termo circunstanciado". A ele juntam-se outros sete boletins de ocorrência (por ameaça, invasão, dano ao patrimônio e atentado violento ao pudor, entre outros), outro termo circunstanciado e três inquéritos policiais. "Qualquer diretor sindical ativo tem um monte de processos. Todos foram arquivados por falta de provas. Nunca fui preso." A Secretaria da Segurança Pública afirmou que não teria ontem como verificar o andamento dos casos.

Desde 1987, trabalhava na antiga prefeitura da universidade, reparando e instalando aparelhos de ar condicionado. Acabou demitido em dezembro passado, após um processo administrativo iniciado em 2005. Foi acusado de "ter invadido uma biblioteca, ameaçado as pessoas e colocado em risco o acervo", conta. Na ocasião, entrou na biblioteca da faculdade com mais 50 funcionários da FAU para levar os servidores do local para um piquete.

A reitoria da universidade não se manifesta sobre os motivos que levaram à demissão por uma "proibição legal". A punição terminou em demissão por causa da reincidência: em outubro, ele havia sido condenado a 20 dias de suspensão por outro processo administrativo de 2006, quando apoiou um protesto de trabalhadores terceirizados e foi acusado de "desvio da função sindical", segundo ele. "A demissão é perseguição política."

Filiado ao sindicato desde 1988, já foi três vezes da diretoria. Participou de 12 greves e diz que "o diálogo [com a reitoria] ficou cada vez mais difícil". Um exemplo, diz, é a entrada da PM na USP. "É a prova da incapacidade da reitora Suely Vilela de resolver os problemas da universidade." Segundo ele, se ela não ceder, a greve continuará.

Em 1998, foi candidato a deputado estadual pelo PSTU; teve 439 votos. Desde a demissão, vive com R$ 2.600, pagos pelo sindicato -mesmo valor que recebia como servidor da USP.

TALITA BEDINELLI
da Folha de S.Paulo