O mistério do tiroteiro na Fabico. Não era assalto, era um caso de assédio sexual

Recebo um e-mail me informando sobre um fato ocorrido na última segunda-feira no prédio da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), no bairro Santana, em Porto Alegre.

O mesmo fato foi objeto de notícia na edição de terça-feira (10) do jornal Zero Hora (clique e leia aqui). O diário da RBS, entretanto, como é do seu feitio, contou da missa a metade, e a outra metade é ficcional.

Mas vamos ao relato de Maria (nome fictício da pessoa que me mandou a mensagem):

[…]
"Escrevo para o blog por que sei que o senhor ficará indignado com o que vem ocorrendo na Fabico, onde trabalho junto com várias outras mulheres. Somos profissionais de higiene e limpeza, trabalhamos para uma empresa especializada que presta serviços para a Ufrgs. […]

Acontece que as mulheres que trabalham comigo estavam sendo assediadas por um guarda da segurança da Fabico, que pertence também a uma empresa contratada da faculdade. Esse guarda dava cantadas em todas as minhas colegas. Segunda-feira passada o marido de uma delas foi cedo da manhã dar um susto no guarda, porque ele estava sendo ousado com a mulher dele. O marido foi a faculdade e deu tres tiros no guarda, mas não acertou e acho que ele queria isso mesmo. Depois, o marido fugiu numa moto e o guarda deu dois tiros nele na rua Ramiro onde tinham muitos carros na sinaleira com a avenida Ipiranga. Foi um horror, todo mundo gritando sem saber o que estava acontecendo na real.

Estou escrevendo para o senhor saber da verdade. No jornal saiu que era um assalto que tinha um mistério no caso, mas na verdade eu quero denunciar que enquanto as mulheres eram assediadas pelo guarda ninguém na faculdade foi capaz de tomar providências para punir aquele guarda e denunciar a safadeza dele. Ninguém, nem os alunos, nem os professores, nem a direção da faculdade. Muitos sabiam o que estava acontecendo, mas ninguém se colocou no nosso lugar de estar sendo humilhada por um cara que queria abusar das mulheres, usando a sua condição de guarda armado. […]

Fiquei sabendo que só o professor Ongareti falou em aula sobre o abuso que estava acontecendo. O resto ficou em silêncio como se isso estivesse acontecendo em Marte. Gostaria que o senhor divulgasse esse nosso problema e alertasse para o descaso de gente que poderia ter nos ajudado a tempo. […] Obrigado, Maria
………… ……… ……… …

São os "fascismozinhos ordinários" que referimos aqui por ocasião do comentário sobre os rapazes misóginos da Uniban (ver post mais abaixo).

Um guarda armado comete assédio sexual em série, dentro da Fabico, próximo a alunos, alunas, professores, professoras, e da direção da Faculdade e nada acontece. Um marido enfurecido comete um quase desatino e foge, tiroteio na via pública, pânico nos transeuntes, alunos e população do entorno. Jornal publica o fato de forma fantasiosa e inverídica emprestando um tom de mistério à notícia.

Que comentário se pode fazer?

Que existe um acanalhamento geral no ar. Ser pusilânime – para muitos – é quase uma regra de conduta. Como explicar que professores da Fabico, alunos da Fabico, direção da Fabico, sabedores desse assédio continuado de um guarda boçal não tomaram providências a tempo?

Isso sim que é um mistério!

PS: O "professor Ongareti", referido por Maria, a rigor, é o professor da Fabico, Wladimir Ungaretti.

Por Marcus Rocha
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