Instituto de Física da UFRGS celebra 50 anos de atividade como um celeiro de cientistas


Centro de excelência da física mundial
Instituto de Física da UFRGS celebra 50 anos de atividade como um celeiro de cientistas e descobertas reconhecidos internacionalmente

Uma aposta entre cientistas, uma garrafa de champanha e uma corrida contra o tempo em um laboratório marcaram, 50 anos atrás, o nascimento da pesquisa em física no sul do país. Passado meio século, o Estado colhe os frutos dessa combinação insólita com um centro de investigação de ponta, reconhecido em todo o mundo: o Instituto de Física (IF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Essa história cinquentenária começa em dezembro de 1959, quando o recém-criado instituto convidou alguns dos melhores físicos de São Paulo e do Rio para um simpósio em Porto Alegre. A intenção era discutir como o IF poderia se lançar à pesquisa. Os visitantes, entre eles César Lattes, um dos mais brilhantes cientistas brasileiros, sugeriram que os gaúchos enviassem estudantes a universidades mais avançadas, para receber treinamento. O professor do IF Theodor Maris discordou:

– Para fazer fogo, se junta carvão, não se separa. Vamos ter um grupo fazendo pesquisa aqui – disse ele, anunciando que o instituto começaria de imediato um experimento de medida de correlação angular, uma das técnicas de física nuclear mais avançadas da época.

– Vocês não vão conseguir nada – duvidou José Goldemberg, fundador do Instituo de Física da Universidade de São Paulo (USP).

– Vamos conseguir e em seis meses, no máximo – respondeu o holandês.

Participante do episódio, o professor Gerhard Jacob, 79 anos, conta que foi feita ali a aposta com os visitantes. Se os gaúchos conseguissem em seis meses, ganhariam uma garrafa de champanha. Do contrário, teriam de pagá-la.

– Era um grande desafio porque não tínhamos experiência nenhuma – lembra Jacob.

Dois auxiliares de pesquisa foram encarregados do experimento, partindo do zero: o engenheiro elétrico Celso Sander Müller, que morreu em 1992, e Alice Maciel, 71 anos, professora aposentada do IF. A tarefa era reproduzir a técnica pela qual uma análise simultânea de dois feixes de raios gama, emitidos por uma amostra de material radioativo, permite inferir detalhes sobre a estrutura do núcleo de um átomo.

Alice, recém-formada, aos 21 anos, relata que parte dos equipamentos necessários teve de ser montada por Müller. A mesa de correlação angular era de madeira. Foram meses de trabalho pesado.

– Trabalhei tanto, tanto, tanto, que teve uma noite que fiquei no laboratório. Foram dois dias sem aparecer em casa, numa época que não tinha como avisar por telefone. Minha mãe apareceu desesperada na universidade.

Com a inexperiência, os pesquisadores esbarravam em problemas. Em uma ocasião, perceberam que os números variavam da noite para o dia – e então se deram conta de que era preciso estabilizar a temperatura. Em janeiro, quando os resultados começavam a aparecer, Goldemberg dava sinais de capitulação em correspondência para Jacob: “Há alguma marca de champagne que custe bem barato?”.

Não demorou muito e, depois de cinco dias de cálculos, Müller e Alice notaram que os números estavam fechando. A experiência havia dado certo. E levara apenas três meses – metade do tempo anunciado por Maris. Pouco depois, uma garrafa de champanha chegava ao IF.

– Só faltou a gente soltar foguete. Tínhamos um laboratório que funcionava – diz a pesquisadora, que no ano seguinte partiria para um estágio na Universidade de Uppsala, na Suécia, que contava com um dos melhores laboratórios de correlação angular.

Por Itamar Melo
Fonte Zero hora