Áreas de preservação de Garopaba ficam ameaçadas sob pressão imobiliária
A Prefeitura de Garopaba, cidade do litoral sul de Santa Catarina, fez uma revisão no Plano Diretor de 2010, permitindo maior ocupação em áreas verdes da cidade. A Emenda Substitutiva 01/2024 previa manter as regras da Zona Especial de Proteção 1 (ZESP1) e da Zona Especial Elevada (ZEL2), conforme a lei original. No entanto, com as mudanças propostas, o tamanho mínimo dos terrenos na ZESP1 caiu de 3.000 m² para 1.500 m², e a área que precisa ser mantida sem construções passou de 70% para 60%. Com essas alterações, áreas antes preservadas podem ser mais facilmente exploradas pelo setor imobiliário.
Para o cientista social e sindicalista, Jorge Francisco de Oliveira Guimarães, o impacto não é apenas paisagístico ou social, mas também ecológico e profundo. O desmatamento em áreas de encosta afeta diretamente a fauna e a flora locais, provocando a fuga de espécies, destruição de habitats e comprometendo ecossistemas frágeis. As dunas costeiras, fundamentais para o equilíbrio entre o mar e a terra, vêm sendo pressionadas por loteamentos e estradas ilegais. A cobertura vegetal, que segura o solo e regula o ciclo das águas, dá lugar ao concreto. Como resultado, aumentam as erosões, os alagamentos e os riscos de deslizamento.
A situação se agrava com a poluição do subsolo, consequência do crescimento desordenado e da ausência de saneamento básico proporcional. O lençol freático, fonte de água potável para muitos moradores, pode ser contaminado por resíduos de obras, esgoto mal tratado e uso irregular de fossas. Com mais gente, vem mais lixo: o volume de resíduos sólidos urbanos cresce sem que a estrutura pública acompanhe — e parte desse lixo termina em rios, córregos e no próprio mar.
“Garopaba precisa de apoio”, manifesta Jorge Guimarães, no portal Arena de Notícias. Turistas brasileiros e estrangeiros, que todos os anos lotam as praias da cidade e se encantam com sua natureza viva, também podem exercer um papel fundamental. “Cobrem das autoridades, dos órgãos públicos e dos representantes eleitos a garantia de que a maior riqueza da cidade — seus morros, dunas e praias — seja protegida. Não há luxo, hotel ou empreendimento que valha mais do que o equilíbrio natural que atrai todos que aqui chegam”, recomenda o sindicalista.
Para Jorge, enquanto o mercado comemora a multiplicação dos “condomínios com vista para o mar”, o povo e a natureza pagam a conta — com a descaracterização da paisagem, a perda de biodiversidade, o colapso dos serviços públicos e o afastamento das famílias nativas.
“Garopaba está diante de um dilema: seguir a rota do lucro imediato, ou ouvir o alerta dos seus próprios morros, rios, dunas e mares. Porque quando a natureza fala, não costuma repetir”, afirma.
Foto: Garopaba.SC
Fonte: Arena de Notícias