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Summit em Mudanças Climáticas termina com carta que propõe soluções para crise climática

Nos dias 2 e 3 de maio, aconteceu o Summit em Mudanças Climáticas, realizado no Salão de Atos da UFRGS. O evento ocorreu um ano após a enchente de maio de 2024 e reuniu cerca de 50 especialistas de diversas áreas para discutir os impactos da crise climática e a necessidade urgente de ações concretas de mitigação, prevenção e adaptação. A ASSUFRGS esteve presente na coletiva de imprensa, que aconteceu na sexta-feira (2) e reuniu nomes da pesquisa climática no país.

Carlos Nobre, pesquisador da USP e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), alertou sobre os riscos do aumento da temperatura global. Segundo ele, se a média global superar 1,5 °C e se mantiver elevada, pode atingir até 2,5 °C até 2050. Para Nobre, a próxima COP 30, que será realizada em Belém, precisa reforçar o compromisso com a redução das emissões.

Osvaldo Moraes, da UFSM e diretor do Departamento de Clima e Sustentabilidade do MCTI, destacou que desastres como as enchentes têm causas naturais e humanas, sendo agravados pela vulnerabilidade e pela falta de planejamento urbano. “É fundamental atuar sobre as causas antrópicas com políticas públicas adequadas, como a manutenção dos sistemas de prevenção, a educação sobre riscos e a atuação coordenada entre os entes públicos”, afirmou.

Adalberto Luís Val, pesquisador do INPA, abordou as consequências das mudanças ambientais para a vida aquática, lembrando que muitos peixes amazônicos – base alimentar de inúmeras comunidades – não resistem ao aumento da temperatura da água e à contaminação por poluentes ativados, como petróleo e plástico.

Também participaram da coletiva os pesquisadores César Victora (UFPel), José Marengo (Cemaden), Margareth Dalcolmo (Fiocruz) e Tercio Ambrizzi (USP), todos reforçando a importância da ciência na construção de respostas concretas à crise climática.

Carta de Porto Alegre: por respostas efetivas aos desastres

Ao final do evento, foi apresentada a Carta de Porto Alegre, construída coletivamente pelos participantes. O documento cobra maior integração entre o conhecimento científico e a gestão pública de desastres, denunciando falhas estruturais como a ausência de planos de contingência, baixa articulação federativa, governança deficiente e sistemas de alerta ineficazes.

Em uma das falas que ecoaram no documento, Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz alerta: “Nós não temos no Brasil ainda um protocolo entre como essas instituições conversam entre elas. Não existe uma comunicação institucional entre essas instituições.” A crítica expõe a fragilidade da articulação entre os entes federativos e os órgãos responsáveis por monitoramento e resposta.

A comunicação de risco foi apontada como um dos principais gargalos durante o evento. O alerta à população nem sempre é efetivo, especialmente quando não é concebido com base na lógica do que as pessoas realmente precisam saber. Quando isso ocorre, a mensagem pode não surtir o efeito necessário, tornando o alerta ineficaz.

A importância de incorporar a percepção de risco ao currículo escolar foi outro ponto destacado. A proposta é que tanto a educação básica quanto o ensino superior incluam esse tema de forma estruturada, contribuindo para a formação de uma sociedade mais preparada para lidar com eventos extremos.A Carta de Porto Alegre também denuncia que parte da infraestrutura urbana segue fragilizada mesmo após os desastres recentes, com redes de escoamento ainda obstruídas por lama e sem manutenção. O texto completo está disponível ao público e é um chamado à ação imediata diante da emergência climática que afeta diretamente a população trabalhadora e os territórios mais vulnerabilizados.

Leia a carta na íntegra aqui.