FUTEBOL Carta aberta ao Imortal

É possível que a maior parte da torcida do Grêmio e de sua direção não tenham se dado conta do que estará em jogo no domingo. Diante de um Maracanã lotado, em partida que decidirá o Campeonato Brasileiro, se planeja escalar um time recheado de reservas, de tal forma que, fragilizada, a equipe seja derrotada pelo Flamengo, evitando, assim, que nosso rival, o outro time de Porto Alegre, possa alcançar o título. A estratégia tem sido objeto de debates entre comentaristas e analistas esportivos, recolhendo, por incrível que pareça, ares de coisa compreensível. Há quem, inclusive, valendo-se de microfones de emissoras de rádio, concessões do poder público, defenda aberta e ofensivamente a ideia de que o Grêmio não pode dar o título ao seu histórico rival.

O dilema posto ao Grêmio é o mesmo que se oferece aos que tomam decisões políticas. Afinal, quando agimos devemos materializar princípios morais – atuando em conformidade ao dever – ou devemos, de forma calculada e cínica, fazer o jogo da encenação para maximizar benefícios particulares? Curioso que muitos dos que se inclinam favoravelmente à tese da fragilização do Grêmio contra o Flamengo sejam os primeiros a criticar o império do pragmatismo que tomou conta da política brasileira. Para estes, como se percebe, ética é aquilo que exigimos dos outros.

Como torcedor e sócio do Grêmio e, sobretudo, como cidadão, exijo que meu time lance força máxima contra o Flamengo e que, se possível, cale o Maracanã. Afinal, me acostumei a torcer por um time imortal, formado por guerreiros e homens dignos. Não quero passar pela vergonha de saber que o Brasil inteiro estará acompanhando uma partida para a qual – por decisão política imoral – não nos lançaremos com ganas de vitória. Se este não for o pensamento da maioria da torcida tricolor, que ela seja educada, então. E se não houver um só dirigente capaz de erguer sua voz contra a barbaridade que se pretende cometer contra a história de um grande time, que, então, os jogadores do Grêmio ofereçam ao Rio Grande e ao Brasil uma lição inesquecível, travando batalha gloriosa no Rio de Janeiro.

Sim, “eles” poderão ser campeões, mas não há título que valha mais que a honra.
E é ela que estará em jogo, domingo, sob os holofotes de um Brasil já cansado de tanta malandragem.

* Jornalista
MARCOS ROLIM*