“A ciência não pode, de maneira alguma, sucumbir à violência”, alerta reitor da UFPel, Pedro Hallal.

Nesta segunda-feira (18), a ASSUFRGS realizou mais um debate ao vivo no Facebook do sindicato. O tema foi “A Importância da Ciência e da Pesquisa no Enfrentamento ao Coronavírus”, com a participação do reitor da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do maior estudo epidemiológico no Brasil sobre o covid-19, Pedro Cury Hallal; do Presidente do ANDES-SN, Antonio Gonçalves Filho, e da Coordenadora da ASSUFRGS, Berna Menezes.

O reitor da UFPel, Pedro Hallal, falou sobre a pesquisa de enorme relevância, que a universidade comanda, rastreando a situação da covid-19 em todo o país. O estudo de campo sofreu uma série de intercorrências pelo país neste final de semana. Equipes de aproximadamente 40 das 133 cidades do levantamento tiveram o trabalho impedido de diversas maneiras.

Em alguns lugares, prefeitos e secretários da saúde não autorizaram a realização das entrevistas e testes rápidos de coronavírus. Em outros municípios, os entrevistadores foram agredidos pela população e até detidos. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, houve prisões em cidades do Pará, Espírito Santo, Maranhão, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Goiás, Santa Catarina e Mato Grosso. A pesquisa iniciou no Rio Grande do Sul e avançou para os outros estados do país, a pedido do Ministério da Saúde.

“As pessoas neste momento no Brasil se sentem autorizadas a praticar violência contra o pesquisador. (…) Pelo menos 200, dos 2.200 pesquisadores contratados para a pesquisa, desistiram de trabalhar pelas hostilidades que sofreram. Seria muito fácil ter desistido e ter parado com a pesquisa no meio. Mas resolvemos que não iríamos fazer isso. Não deixaríamos que a negação à ciência vencesse. Os nosso pesquisadores seguem em campo, coletando dados nas cidades em que eles foram hostilizados, porque a ciência não pode de maneira alguma sucumbir à violência. Essas pessoas chegaram a dar entrevista na TV, demonstrando medo que sentiram, foram até conduzidas em camburão. Mas elas estão nas ruas de novo, coletando dados para tentar ajudar a salvar milhares de vidas de brasileiros, através da informação. Somente com informação é que nós vamos conseguir salvar o pais.”, ressalta o Reitor da UFPel.

Luta em defesa da Educação

As “tsunamis da educação”, grandes manifestações de rua comandadas pelos trabalhadores da educação e estudantes em 2019, impediram os cortes nas universidades. A luta em defesa da educação pública foi lembrada durante a conversa. “No ano passado estávamos na rua, todos juntos, mostrando para a população que os cortes de investimento em ciência e tecnologia, dentro das universidades, eram inaceitáveis! Aqui em Pelotas, como em Porto Alegre, tivemos a maior manifestação de rua desde as ‘Diretas Já’! Estávamos lutando para convencer a população que a universidade era importante. Por incrível que pareça, precisou um ano depois, aparecer uma pandemia para que as pessoas entendessem nosso recado.”.

Segundo o professor as pessoas estão entendendo neste momento a importância das universidades, “pois estamos produzindo álcool-gel, máscaras, ventiladores e testes. Pois estamos ajudando na reestruturação do SUS. Como se não bastasse, os hospitais universitários são referência de tratamento da covid-19 em diversas cidades do país. As pessoas estão entendendo que é preciso investir em universidade, ciência e tecnologia. Se não forem as universidades não vai ter vacina, não vai ter medicamento eficaz, não vai ter dado epidemiológico. A única forma de enfrentar o coronavírus será com ciência e tecnologia, será com o trabalho das universidades.”, afirmou Pedro Hallal.

Confira a íntegra da conversa:

Foto em destaque: CHARLES GUERRA/DIVULGAÇÃO/JC