ARTIGO: Cientistas estão horrorizados com corte de 44% no orçamento da Ciência brasileira

Cientistas brasileiros ficaram horrorizados com uma redução de 44% no orçamento federal de ciência, anunciado pelo governo do país no último dia 30 de março. Isso deixará o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) com seu orçamento mais baixo em pelo menos 12 anos em apenas 2,8 bilhões de reais, equivalente a US$ 898 milhões – um corte de 2,2 bilhões de reais dos 5 bilhões de reais de financiamento que o governo tinha proposto originalmente para 2017.

O corte é parte de um plano de cortes gerais de 42 bilhões de reais do orçamento federal, o que equivale a 28% sobre todos os departamentos governamentais – por isso o corte para a ciência é particularmente grave.Os pesquisadores argumentam que a ciência já sofreu muito com a crise econômica. Desde 2014, uma série de cortes nos recursos levaram ao abandono no programa Ciências Sem Fronteis, um programa de intercâmbio emblemático para permitir que estudantes brasileiros visitassem instituições líderes no exterior e grandes projetos internacionais. O número de trabalhos de pesquisa publicados no Brasil também está diminuindo, segundo uma estimativa preliminar de 2016.

Somando-se a essas desgraças, Temer demoliu o ministério da ciência quando tomou posse em maio de 2016, fazendo a fusão com o ministério de comunicações e uma emenda constitucional aprovada pelo novo governo limitou os gastos federais a aumentos no nível da inflação por 20 anos, matando a esperança de que a maré possa virar em breve.

Cientistas preocupados


O novo orçamento é "uma bomba atômica contra a ciência brasileira", diz o físico Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências. Ele adverte que os cortes prejudicarão a pesquisa e o desenvolvimento nas próximas décadas. "Se estivéssemos em guerra, poderíamos pensar que essa era uma estratégia de uma potência estrangeira para destruir nosso país. Mas, em vez disso, somos nós fazendo isso para nós mesmos. "

Sidarta Ribeiro, chefe do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em Natal, tem uma visão semelhante, dizendo: "Este é um ato de guerra contra o futuro do Brasil. Os cientistas vão fugir do país". Ele cita o caso de Suzana Herculano-Houzel, renomada neurocientista que fechou seu laboratório em 2016 e deixou o Brasil para os Estados Unidos. "Se eu não tivesse dinheiro estrangeiro para pesquisa eu estaria me desligando", acrescenta.

Fernando Peregrino, presidente da CONFIES, associação brasileira de agências de fomento à ciência e fundações universitárias, concorda. "Haverá um enorme desmembramento de equipes que será difícil de reconstruir", diz ele. "Nós descemos mais um passo."

Os cientistas estavam preocupados com o financiamento antes do anúncio. Davidovich e Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), escreveram de forma preventiva cartas a Temer e ao ministro das Finanças, Henrique Meirelles, alertando sobre o impacto de um corte potencial em um já apertado orçamento científico . "O governo agiu sem ouvir o Estado. Mostra uma miopia absoluta ", diz Nader.

O MCTIC disse à Nature que já começou a avaliar o impacto total dos cortes. De acordo com o ministério, as ações para mitigá-los serão anunciadas em breve.

Ribeiro diz que os cortes drásticos podem ter um forro de prata: podem alimentar a marcha de 22 de abril para a Ciência no Brasil. A SBPC uniu-se formalmente à marcha deste mês, inspirada pelo movimento Trump-resistance nos Estados Unidos, e tem chamado os cientistas de todo o Brasil a se juntarem. "Precisamos pintar para a guerra e ocupar espaços públicos", diz Ribeiro. "Respeitosamente, mas consistentemente."

Traduzido do artigo origianlamente publicado na revista Nature -> Brazilian scientists reeling as federal funds slashed by nearly half