Após cinco anos, 54 universidades públicas do país têm ações afirmativas

Em 2008, a adoção de cotas por universidades públicas brasileiras completa cinco anos. Apesar desse tempo, duas questões parecem não ter mudado: o assunto ainda causa polêmica no meio acadêmico e as desigualdades raciais entre brancos e negros continuam graves.

Um levantamento feito pelo Laboratório de Políticas Públicas da Uerj revela que 54 universidades federais e estaduais já adotaram algum tipo de ação afirmativa. Contudo, um estudo do Instituto de Economia da UFRJ mostra que, em 2006, 93,7% dos negros em idade para freqüentar uma universidade não o faziam. Já entre os brancos, 19,5% estão em faculdades. De acordo com o estudo, com esse ritmo, as assimeatrias entre os dois grupos não cessarão em menos de 17 anos.

"Nesses cinco anos de cotas, as políticas afirmativas têm avançado significativamente. Os negros são, indiscutivelmente, a população mais desfavorecida, marginalizada e excluída da sociedade. As cotas significam, portanto, nesse contexto, um mecanismo que corrige tanto quanto possível uma desigualdade social que, visivelmente, atinge em maior dimensão a população negra brasileira", defende o diretor da Educafro, Frei Valnei Brunetto.

De acordo com o pesquisador da Uerj, Renato Ferreira, o dado mais relevante do estudo é o grande número de instituições que aderiram às ações afirmativas. "A UniRio está discutindo o assunto. A UFRJ também discutiu a questão e foi contra, o que é um absurdo! Estive na UFRJ realizando uma palestra e passaram por mim 70 estudantes de Medicina. Não vi nenhum negro. Que democracia é essa? O que vamos deixar para os que virão? Democracia que não tem a participação de todos, é falsa, vazia", afirma o autor da pesquisa.

A Uerj foi a primeira universidade do país a utilizar o sistema de cotas em seu vestibular, no ano de 2003. Atualmente, a instituição possui cerca de nove mil alunos cotistas. Em 2007, o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho, sancionou lei que incluiu os filhos de policiais, bombeiros e agentes penitenciários mortos em serviço, no percentual de 5% das vagas já reservadas para deficientes físicos e minorias étnicas. "Política de cota só tem justificativa se ajudar quem realmente está excluido. O estado pode ter alguma politica para essas pessoas que são filhos de pais que morreram em combates, mas não numa universidade", critica Renato.

Segundo o pesquisador, das instituições que adotam os benefícios, apenas sete possuem um sistema de bonificação em lugar de cotas, entre elas, a UFF. Na federal, o estudante que cursou o ensino médio em escola municipal ou estadual tem um acréscimo de 10% na nota final do vestibular. No entanto, ele precisa passar na 1ªfase – acertando 33 questões das 66 da prova – e ainda se classificar em até oito vezes o número de vagas oferecidas pelo curso pretendido. "Entendemos que fazendo essa inclusão teremos todas as etnias que compõem a sociedade brasileira estudando e estaremos contribuindo para uma universidade mais democrática. Ainda não temos resultados finais porque é a primeira aplicação. Mas os cursos mais disputados, como Medicina e Odontologia, onde há muito tempo não entravam alunos de escolas públicas, já devem apresentar diferenças consideráveis", justifica o coordenador da Coordenadoria de Seleção da UFF, (Coseac), Nelliton Ventura.

Fonte: Natália Strucchi, Folha Dirigida