Estudantes do IPH, APG, DAFE e técnicos da Fagro e IFCH se manifestam contra intervenção na UFRGS

A comunidade da UFRGS se manifesta contra a intervenção na universidade, após a nomeação de Carlos Bulhões como interventor da UFRGS. Estudantes e técnico-administrativos de diferentes unidades e campi da UFRGS publicaram notas de repúdio à intervenção. Compilamos abaixo as manifestação da comunidade universitária:

Estudantes do IPH

Nós, alunos do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), viemos tornar pública a nossa oposição à intervenção do governo federal na UFRGS com a nomeação do último colocado na consulta à comunidade acadêmica, Carlos André Bulhões (ex-Diretor do IPH) para reitor.

É de grande gravidade que a decisão da comunidade acadêmica da universidade, a qual engloba professores, servidores e alunos, seja completamente ignorada e desrespeitada pelo governo. Desde 1988, ano da redemocratização do país, a consulta vinha sendo respeitada, fazendo valer a voz da comunidade acadêmica. Essa intervenção do governo federal, apesar de legal, transparece um risco à democracia nas instituições de ensino e é um ataque direto a autonomia da UFRGS, universidade que apresenta ótimos resultados e indicadores em avaliações do MEC.

Somos contrários à intervenção do governo federal na reitoria da UFRGS e sempre defenderemos a autonomia universitária.
Porto Alegre, 23 de setembro de 2020.
A nota pode ser assinada pelo link
https://forms.gle/6umcXoT8gV6CKk6W7

APG – Moção repúdio à intervenção na UFRGS!

Mais de 300 pós-graduandos e pós-graduandas assinaram a “moção de repúdio à intervenção na UFRGS!” organizada pela APG UFRGS. Segue a moção:

“Nós, da Associação de Pós-Graduandos da UFRGS (APG UFRGS), viemos a público manifestar total repúdio à intervenção na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atacando a autonomia universitária, de forma autoritária e antidemocrática, Bolsonaro nomeou o candidato menos votado e último colocado da lista tríplice, Carlos André Bulhões, ao cargo de reitor da UFRGS. Vale ressaltar que essa tem sido prática corriqueira deste governo. Somos contra as intervenções nas reitorias dos institutos e universidades federais, pois este é um projeto político de ataque sistemático a educação pública federal, que remete, inclusive, às medidas tomadas pelos generais da ditadura militar. As eleições para a reitoria devem ocorrer de forma direta e paritária nas universidades, sem lista tríplice ou fatores redutores nos votos dos estudantes, ou seja, o governo federal deve respeitar a escolha da comunidade acadêmica.

Não admitiremos intervenção na UFRGS e lutaremos em defesa da autonomia universitária! APG UFRGS, 16 de setembro de 2020”.

Os nomes completos dos estudantes de pós-graduação que assinaram a moção estão disponíveis no Facebook da APG UFRGS. https://www.instagram.com/p/CFfCqmCn1Gn/?igshid=1njm4o29shz19

DAFE – Diretório Acadêmico da Faculdade de Educação 

NÃO À INTERVENÇÃO DE BOLSONARO-MOURÃO A UNIVERSIDADE SE DEFENDE NA LUTA!

No dia 16 de setembro, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul tornou-se mais uma das instituições de ensino superior do país a ter sua autonomia totalmente atacada e receber intervenção por parte do governo de Bolsonaro-Mourão com a nomeação para ocupar o cargo de reitor, na administração central da UFRGS, Carlos Bulhões e Patrícia Pranke como vice-reitora.

O projeto do governo Bolsonaro-Mourão de ataques as universidades não é de agora, em 2019 personificado na imagem do ex-ministro da educação, Abraham Weintraub, os ataques às universidades federais vieram pelos diversos cortes orçamentários que impediram as universidades de gerirem seus recursos básicos, atrelado ao péssimo ‘Projeto Future-se’ que visa privatizar nossas universidades federais e que foi amplamente rejeitado pelas comunidades universitárias de todo o país. 

Não contentes com o fracasso do ‘Projeto Future-se’, que ainda busca ser implementado, Bolsonaro-Mourão seguem atacando as universidades públicas. Ao todo já ocorreram 13 intervenções em universidades federais, sendo quase sempre nomeado o terceiro colocado da Consulta à Comunidade nas instituições, ou ainda, pessoas que nem mesmo participaram da consulta!

A chapa de Carlos Bulhões e Patrícia Pranke recebeu SEIS MIL VOTOS A MENOS na Consulta à Comunidade para ocupar o cargo de Reitor e Vice-Reitor, e apenas TRÊS VOTOS na eleição do CONSUN, ou seja: NÃO HÁ LEGITIMIDADE NESSA NOMEAÇÃO!

Não por acaso, o interventor Carlos Bulhões em sua primeira ação administrativa fundiu as Pró Reitorias de Extensão, Pesquisa, Assuntos Estudantis, Ações Afirmativas, Graduação e Pós-Graduação, criando uma “Pró-Reitoria de Inovação”, ignorando assim as complexidades e particularidades de cada Pró-Reitoria, com esta ação acreditamos que há a intenção de acordos com o setor privado, como o próprio já citou diversas vezes em apresentações e debates de campanha. Recordamos também, que em um dos debates realizados, Carlos Bulhões e Patrícia Pranke foram questionados acerca de como reagiriam caso fossem nomeados por Bolsonaro e pelo MEC para ocuparem os cargos ainda que não fossem os mais votados na consulta, ao que Bulhões respondeu dizendo que quanto a isso seria apenas “especulação”. Como a comunidade universitária já previra, vimos, após findar a consulta, Bulhões se articular com o deputado Bibo Nunes (um dos deputados do RS mais ligado e aliado de Bolsonaro) para que assim fosse realizada a intervenção!

Não podemos nos enganar! Este governo tem sim um projeto muito bem delineado para a educação em nosso país, e esse projeto é transformá-la em mercadoria, para assim fortalecer os monopólios de educação privada em detrimento da educação pública como direito de todos e todas e dever do estado! 

Enquanto Movimento Estudantil e Universitário seguiremos na luta para barrar os avanços do capital sobre a educação e as liberdades democráticas! Atos já ocorreram e outros seguirão ocorrendo, com mobilização podemos vencer, foi assim contra o ‘Projeto Future-se’ e outros tantos absurdos que este governo busca implementar! O DAFE seguirá construindo e participando de tais mobilizações e convida todos e todas a estarem se somando nessas ações!

Não a mercantilização da educação! Não haverá sossego ao interventor! Carlos Bulhões não é o reitor escolhido pela comunidade universitária!Lutar, criar, Universidade Popular!!! https://www.instagram.com/p/CFdOcQunS0e/

Técnico-Administrativos em Educação da Fagro

Por Autonomia, Democracia e Valor

Nós, servidores técnicos administrativos da Faculdade de Agronomia, manifestamos nossa insatisfação quanto à nomeação do dirigente máximo da nossa instituição pelo governo.

O argumento da legalidade de sua indicação não nos convence, tampouco nos surpreende. Como técnicos, sabemos que o autoritarismo e a manutenção de privilégios muitas vezes cobrem-se com o verniz da lei. A oportunidade fornecida por suas brechas com frequência faz com que se esqueça que leis não são dogmas e que podem e devem ser alteradas caso não exprimam o anseio dos coletivos. Isso ocorreu quando da consulta a comunidade acadêmica, que utilizou o famigerado 70:15:15, que desvaloriza drasticamente o voto de duas categorias importantes de nossa comunidade, uma delas razão de ser desta instituição: os estudantes. E ocorreu novamente no último dia 16, quando da indicação do senhor Carlos Bulhões por parte do governo federal, contrariando a decisão desta comunidade acadêmica.

O objetivo dessa intervenção, hoje, não diferente de 1964, é de cercear a manifestação de ideias e perseguir as vozes rebeldes que enfrentam esse governo antipovo e antidemocracia, uma vez que as universidades tem sido um dos segmentos importantes para a difusão de ideias e a formação de consciências. A livre manifestação e a democracia são elementos estratégicos de superação de crises e de fortalecimento da resistência a projetos de governos autoritários.

Para nós a indicação da nova administração da UFRGS exemplifica o autoritarismo adotado pelo atual governo e aprofunda a perda da autonomia universitária.  Em condições democráticas, a escolha do candidato mais votado seria natural e inquestionável: a Chapa 3 teve 8.947 votos na comunidade, a Chapa 2 teve 4.683 votos e a Chapa 1 teve 1.860 votos na comunidade, mas se tornou Administração da UFRGS por um regramento conservador do CONSUN e pelo autoritarismo do governo.

Porém, este é o preço a pagar por uma instituição que cria castas, segrega os membros de sua própria comunidade, não reconhecendo a igual importância de todos na construção da melhor Universidade Pública do País. É o que acontece quando nos afastamos dos princípios democráticos e da defesa da Autonomia Universitária, prevista em nossa Constituição, e deixada de lado pelas últimas administrações.

Assim, as(os)Servidoras(es) Técnicas(os) Administrativas(os) reforçam seu apreço e sua defesa inegociável aos princípios da Democracia, da Igualdade e da Autonomia Universitária.

Paridade já, na escolha de todos os cargos de direção, chefias e representações. PARIDADE JÁ NA UFRGS!!!

Técnico-administrativos em Educação do IFCH

Nós, técnicas e técnicos administrativos em educação do IFCH, consideramos necessário expressar ao conjunto da comunidade universitária os seguintes entendimentos sobre a iminente escolha do novo reitor da UFRGS pelo Presidente da República:

Entendemos que o sistema de nomeação de Reitores(as) e Vice-Reitores(as) das IFES está fundamentado em uma legislação que fere os princípios constitucionais da autonomia universitária e da gestão democrática do ensino. O mecanismo do envio de lista tríplice faculta ao presidente a escolha de candidato não-representativo dos anseios da comunidade universitária, podendo alguém tornar-se reitor com quantidade inexpressiva de votos. Faz-se necessário, portanto, uma mobilização da comunidade universitária tendo em vista a modificação desse regramento avesso à democracia e à autonomia universitária.

O mesmo vício antidemocrático, herança de outros tempos, persiste no interior da nossa instituição. O formulismo aplicado na consulta informal à comunidade universitária, que estabelece peso de 70% para os votos de servidores docentes, restando 15% para servidores técnico-administrativos e 15% para estudantes, deforma o processo eleitoral de modo irreversível, além de criar distinções políticas entre categorias de servidores igualmente concursados, estáveis e regidos por um mesmo regime jurídico. A realização de consulta não-paritária, ou seja, antidemocrática, este ano, mais uma vez, alçou ao primeiro posto da lista tríplice chapa que não foi a mais votada pela comunidade, provocando ruptura institucional interna em momento de fundamental unidade frente aos avanços autoritários do governo sobre a universidade pública.

Nesse sentido, repudiamos a nomeação de qualquer chapa que não tenha sido a mais votada pela comunidade universitária e, deste modo, entendemos que a legítima vontade desta, para que seja efetivamente respeitada, deve conduzir à nomeação da Chapa 3, visto que foi esta a chapa que recebeu a maioria dos votos em um cômputo que respeite a composição dos três segmentos da UFRGS.

Repudiamos, portanto, uma possível escolha autocrática do presidente por uma chapa que recebeu muito poucos votos de docentes, técnicos e estudantes da universidade. Da mesma forma, repudiamos a escolha de uma chapa eleita pelo formulismo censitário e oligárquico que cria distinções de valor no interior da instituição, favorecendo os pequenos interesses de poder, em detrimento dos anseios da maioria.

Afirmamos, por fim, apoio à nomeação da Chapa 3, constituída pelas professoras Karla Müller e Cláudia Wasserman, para a reitoria da UFRGS. Esta foi a chapa escolhida pelo critério democrático. Esta é a chapa que mais e melhor representa a comunidade universitária da UFRGS, seus valores, visões de mundo e projetos de futuro. Contra os arroubos autocratas sustentados em leis ultrapassadas, contra os formulismos eleitorais sustentados em projetos de poder dos pequenos oligarcas, em defesa da democracia, da paridade, da autonomia universitária, por uma UFRGS pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada.

Técnicas e técnicos administrativos em Educação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS
14 de setembro de 2020