Estudantes indígenas da UFRGS ocupam prédio abandonado exigindo Casa do estudante Indígena

Nesta segunda-feira, estudantes indígenas da UFRGS ocupam o prédio abandonado na entrada do Túnel da Conceição, em frente ao Campus Reitoria da UFRGS, exigindo que a estrutura seja usada como Casa do Estudante Indígena. Uma demanda antiga dos povos, que nunca foi atendida pela Universidade.

Os estudantes indígenas, em sua maioria mulheres e mães, pontuam que ações afirmativas para o ingresso na universidade não são suficientes, é necessário haver políticas que deem condições para que eles sigam seus estudos e dentro da visão de mundo que acreditam e vivem. É preciso o básico, como moradia, alimentação, cuidado com os filhos, respeito à cultura.

Tailine Kaingang, estudante de odontologia da UFRGS, que esta participando da ocupação, contou que na atual casa do estudante, os indígenas sofrem muita discriminação. “A gente tem um modo de viver diferente, um modo mais coletivo, e precisamos de um espaço para receber nossas famílias, principalmente para as nossas crianças serem livres e brincarem. Nossa vida não se resume a estudo, ela é um complemento de tudo. Precisamos dos nossos anciões, precisamos fazer os nossos cantos e os nossos artesanatos e então queremos um lugar que seja a nossa casa mas que também seja um ponto de referência para recebermos e abrigarmos todas as pessoas que precisarem.”

A maioria dos estudantes indígenas que ingressam na universidade são mulheres que já são mães, e esse é um dos principais argumentos que justifica a urgência de uma casa do estudante indígena, uma vez que as atuais casas do estudante não permitem a presença de crianças. “Já tivemos crianças que tiveram que entrar escondidas na casa do estudante. Uma mãe não pode ir à universidade e deixar seu filho em casa, porque esse não é o nosso modo de viver, essa não é a nossa cultura, e isso interfere muito no nosso aprendizado o que acaba gerando até desistência da faculdade. Os nossos colegas de quarto não aceitam e não respeitam nossos filhos dentro da universidade e há muitas histórias de mães que tiveram seus filhos ameaçados. Então a gente precisa deste local, principalmente pelas nossas crianças, pois futuramente, eles vão estar ocupando este espaço.”

O prédio já vinha sendo ocupado por pessoas em situação de rua que através de dialogo decidiram sair do local para que os estudantes realizassem a ocupação. Entretanto a Guarda Municipal informou que região pode ser muito perigosa devido a circulação de pessoas à noite por ali.

O imóvel, abandonado há cinco anos, foi cedido pela prefeitura para a UFRGS, mas no começo de fevereiro foi devolvido à Prefeitura. Os estudantes consideram o prédio como um ponto estratégico, pois ao ocupá-lo, eles mobilizam não só a UFRGS como também a prefeitura. “Estamos aqui não só como estudantes mas também como parte da comunidade porto-alegrense que é de povos e estudantes indígenas nessa comunidade. Então esse diálogo vai ter que ocorrer entre a prefeitura e a universidade para que eles estejam implementando a Casa do Estudante Indígena para nós!” Explicou Tailine.

Reuniões com a prefeitura já estão ocorrendo e os estudantes ainda aguardam um posicionamento da UFRGS. “Esse é o nosso intuito, que a nossa voz seja ouvida, e até que não seja ouvida, a gente vai fazer todas as formas de movimentações para que essa casa do estudante saia. A gente não vai mais deixar isso se prolongar. Agora sim vai ter que sair uma Casa do Estudante Indígena, e se não for aqui, a gente vai ocupar outros lugares, vai ocupar a reitoria. Nós não vamos sair sem a nossa Casa do Estudante!” Afirmou Tailine.

A UFRGS se posicionou através de uma nota, prometendo atuar cooperadamente. “A Universidade está em contato com a Prefeitura de Porto Alegre, proprietária da área, para atuar de forma cooperada no tema”

A Prefeitura declarou que buscará um prédio provisório para os estudantes indígenas enquanto negociam uma decisão permanente com a UFRGS. A Prefeitura pediu um prazo de sete (7) dias para este movimento. Enquanto isso, o comprometimento de que a Guarda Municipal não intervirá na circulação da ocupação. Entretanto, são palavras que não estão nem no papel, é necessário se manter atento.

A ASSUFRGS Sindicato declara seu total apoio à ocupação dos estudantes indígenas e exige que eles tenham o direito de um espaço seguro e confortável que garanta sua estadia dentro da universidade, podendo manter seus modos e práticas de vida sendo respeitados. Confira a posição das entidades representativas da comunidade da UFRGS.

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Todos aqueles que quiserem, podem se juntar a essa causa e se unir a ocupação. Os estudantes também estão aceitando doações de alimentos e de produtos de higiene. Há também um PIX para que possam fazer doações em dinheiro, toda ajuda é bem vinda.

Pix celular: 54 996265542
Viviane Belini Lopes

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