Fim da Creche da UFRGS é responsabilidade da atual reitoria e antigas gestões

Nesta semana, a comunidade da UFRGS foi surpreendida com a comunicação do uso do espaço físico da Creche da Universidade, como Casa do Estudante Indígena. A informação foi confirmada em 28 de março, em documento assinado pela Pró-reitora de Assuntos Estudantis e a pelo chefe de gabinete do Reitor. Veja aqui.

Esta é uma vitória importante dos estudantes indígenas, fruto da luta histórica por esse espaço e que ganhou fôlego com a recente ocupação do antigo prédio da Smic, ao lado do Túnel da Conceição, em frente ao Campus Centro da UFRGS.

A criação da Casa do Estudante Indígena deve ser comemorada por toda a comunidade universitária. Entretanto, a decisão atinge o direito das trabalhadoras da UFRGS, que a partir de agora não terão mais a possibilidade de deixar seus filhos em um local seguro dentro da universidade. A creche tem uma longa história, de cinco décadas, e vinha sendo sucateada pelas últimas gestões. Existia, entre a categoria, a expectativa de abertura de novas vagas com o retorno presencial sendo ampliado.

“Eu tenho uma menina de 6 anos e sei da importância que é ter uma creche para deixar nossos filhos com tranquilidade para poder trabalhar. A creche da UFRGS oferecia isso.” Para a Coordenadora-geral da ASSUFRGS, Tamyres Filgueira, a situação comprova a postura da atual reitoria. “A ASSUFRGS não deixará de lado essa luta. Não recuaremos. É importante que a gente cobre um novo espaço para a creche. Ressaltamos que de forma alguma a culpa é dos estudantes indígenas. A responsabilidade do fechamento da creche é do reitor e não do movimento legítimo dos estudantes pelo seu espaço.”

Trabalhadores da creche foram surpreendidos

A reportagem da ASSUFRGS conversou com alguns colegas técnico-administrativos em educação que seguiam trabalhando na Creche Francesca Zacaro Faraco. Eles confirmaram que não foram previamente informados sobre a mudança e que já foram solicitados para iniciar a desocupação das salas.

“O clima aqui tá bem chato, de tristeza mesmo. A gente soube por acaso, o pessoal está bem abatido, todo mundo desocupando as salas… desde terça estamos levamos embora algumas coisas. Hoje estamos organizando o patrimônio, pois eles querem que o pessoal da Casa de Estudante já entre. Então temos que desocupar essa semana. Realmente a creche terminou, não existe mais.”, relatou a colega Sandra Stefani.

Na tarde desta quarta-feira (30), o movimento indígena fundou o espaço com a chegada dos estudantes e seus filhos. Houve um momento de tensão com a reitoria do interventor Carlos Bulhões. Porém, ficou acertada a ocupação dos estudantes indígenas em algumas salas, enquanto os trabalhadores da creche continuam o processo de encerramento da creche. Uma maneira de impedir que as crianças fiquem em situação precária, de frio e umidade, na ocupação.

Para onde vão os servidores?

O diretor do Colégio de Aplicação, Rafael Brandão e a Pró-reitora de Assuntos Estudantis, Ludymila Schulz Barroso, estiveram pessoalmente na creche para conversar com os trabalhadores que foram pegos de surpresa. Foi informado que a decisão não seria temporária, sendo inclusive detalhado que serão realizadas obras de adequação na estrutura, como novos banheiros, além de aquisição de móveis.

Segundo relato dos colegas TAEs, a PRAE se colocou a disposição de receber os servidores que não queiram ser alocados no CAP, entretanto os auxiliares de creche terão que obrigatoriamente trabalhar no Colégio de Aplicação. Além disso, os servidores poderão escolher outras unidades da UFRGS. “Isso é uma coisa boa, pois estávamos todos preocupados que teríamos que ficar no CAP de maneira obrigatória. Assim temos a opção de ir para qualquer unidade, onde tenha o seu cargo, basta ver com a direção da unidade escolhida a possibilidade.”, ponderou Sandra.

O final da creche não chega a surpreender. O espaço vinha desde 2017, na gestão Oppermann, sendo sucateado. A ASSUFRGS Sindicato, em conjunto com os trabalhadores da creche, chegou a apresentar uma solução para o impasse que impedia a contratação de novos trabalhadores para o espaço, porém as ideias não foram abraçadas pela reitora à época. A situação foi agravada pela pandemia.

A ASSUFRGS Sindicato ressalta a importância da conquista dos estudantes indígenas, porém lamenta a perda de um espaço fundamental e histórico para nossa categoria e em nossa universidade, que é a Creche da UFRGS.

A luta da ASSUFRGS sempre foi pela manutenção da creche e pela ampliação também para as mães estudantes, como política de permanência estudantil. A responsabilidade pelo fim da creche recai sobre a atual reitoria e as antigas gestões, que ao longo dos anos deixaram com que o espaço fosse sucateado, sofresse com baixo número de trabalhadores e desmontes.

A reitoria deveria garantir as duas políticas, de assistência aos estudantes indígenas e de apoio aos trabalhadores, pais e mães e seus filhos. Seguiremos nessa luta!

Foto: UFRGS