Moção de repúdio ao trabalho escravo e racismo na serra gaúcha

Mais de 200 trabalhadores foram resgatados de um alojamento em Bento Gonçalves, na Serra do Rio Grande do Sul, onde eram submetidos a condições degradantes e trabalho análogo à escravidão durante a colheita da uva. A maioria deles viajou da Bahia para o RS com a promessa de uma vida melhor, mas foram surpreendidos com as condições do trabalho. De acordo com o MTE – Ministério do Trabalho e Emprego – as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton contrataram a Fênix Serviços Administrativos e Apoio a Gestão de Saúde LTDA, que oferecia a mão de obra.

Os trabalhadores eram obrigados a trabalhar diariamente das 5h às 20h, sem pausas, e com folgas apenas aos sábados, recebiam alimentos estragados, eram impedidos de sair do local, espancados, além de sofrerem agressões com choques elétricos e spray de pimenta. As vítimas tentaram ir embora, mas foram ameaçadas pelos empregadores e também por policiais militares da região.

A ASSUFRGS Sindicato repudia as empresas responsáveis pelo crime, não somente a terceirizada, mas também suas contratantes. Nos sentimos na obrigação de evidenciar que este episódio é muito mais que uma questão trabalhista, mas um reflexo do racismo estrutural do país, que coloca determinados corpos como escravizáveis e matáveis. Não podemos tratar desse assunto sem pontuar que tudo isso aconteceu devido ao fato de que a maioria dos trabalhadores eram pessoas negras e nordestinas.

Tanto é evidente esse recorte, que o vereador Sandro Fantinel, de Caxias do Sul, demonstrou exatamente essa visão eugenista ao usar a tribuna, na última terça-feira (28), para banalizar o caso, pedindo que os produtores da região “não contratem mais aquela gente lá de cima”, se referindo a trabalhadores vindos da Bahia. Ele ainda recomendou que se dê preferência a empregados vindos da Argentina, que, segundo ele, seriam “limpos, trabalhadores e corretos”.

Nesta quinta-feira, Tamyres Filgueira, Coordenadora-geral da ASSUFRGS, foi até a câmara de vereadores de Caxias, representando o sindicato em um ato que exigia a cassação de Fantinel. A Câmara de Vereadores de Caxias do Sul aceitou por unanimidade o pedido. Seguiremos atentos para que o vereador seja devidamente afastado do cargo público.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), divulgou ainda na terça-feira (28), a suspensão da participação das vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi, em feiras internacionais, missões comerciais e eventos promocionais. Mas ainda é pouco. É necessário que o estado e o ministério público também punam, não somente a empresa terceirizada, mas as vinícolas e os policias envolvidos nos crimes, para que essa situação não volte a ocorrer.

É necessário dar um basta na cultura xenofóbica, escravocrata e racista que permeia parte das instituições, empresas e figuras públicas gaúchas. Racismo é crime inafiançável e imprescritível. Aqueles que o cometem devem pagar! Seguiremos na linha de frente na luta antirracista para garantir que esses criminosos sejam penalizados.