Artigo: Resistência e Unidade dos Trabalhadores é Tarefa de Todos Nós (por Rui Muniz)

*por Rui Muniz

Foto: Greve Geral de 14 de junho de 2019 – Luiza Castro/Sul21

Há necessidade de irmos às ruas e defender direitos e democracia conquistados

O capitalismo representa um avanço muito grande no desenvolvimento da sociedade em comparação com os sistemas sociais anteriores. Isso faz com que o sistema capitalista apareça como o único sistema capaz de fornecer ao homem todo o seu bem-estar. No entanto, basta observar a realidade da Sociedade capitalista para perceber que isso não é o caso.

Se pensarmos no extraordinário aumento da capacidade produtiva alcançado sob este sistema, deveria ter resultado na abolição da privação e miséria. Mas este não foi o resultado, nem mesmo nos Estados Unidos, o país capitalista mais avançado e mais rico do mundo. Nos Estados Unidos, como em qualquer outro país capitalista, há fome no meio de abundância, pobreza em meio à riqueza. Deve haver algo fundamentalmente errado em um sistema econômico em que existem tais contradições.

De fato, algo está errado. O sistema capitalista é ineficiente e destrutivo, irracional e injusto.

É ineficiente e destrutivo, porque mesmo naqueles anos em que funciona melhor, um quarto de sua capacidade de produção permanece ociosa.

É ineficiente e destrutivo, porque em seu delírio para aumentar os preços e os lucros, em vez satisfazer as necessidades humanas, precisa destruir as colheitas e os bens em geral para aumentar a demanda por
eles e, assim, aumentar os preços.

Embora seja incrível, no Brasil, toda a colheita de café já foi queimada; em outros países jogaram leite em rios ou permitiram que apodrecessem frutas em árvores para aumentar os lucros vendendo mais caro.

Há avaliações da esquerda sobre o governo instalado no Brasil que algumas vezes pode parecer que divergem em suas caracterizações como sendo conservador ou um governo protofascista, fascista ou ultraliberal. Mas todos concordam que se pauta no fascismo, no despotismo, na violência, na censura, caracterizado por um governo antidemocrático e ditatorial. Sobre o porque dessa conjuntura, também há debates reais que dialogam sobre ser uma experiência desastrosa a dos governos da Frente Popular e responsável pela instalação do atual governo, mas essas avaliações contracenam com os avanços que a Classe Operária teve naquele período, existindo também entendimentos de que há uma investida muito forte de organizações alinhadas ao capitalismo na América Latina para barrar os avanços democráticos conseguidos nos últimos anos. O concreto é que nesse momento, mesmo com entendimentos diferentes, todos os campos de esquerda estão unidos para barrar os retrocessos já iniciados há seis meses no Brasil.

Como estratégia de luta, no campo da esquerda há unidade também quanto a opção de ser possível mudanças necessárias a partir do congresso, o que nunca foi a opção de luta para nenhuma organização da Classe Trabalhadora; no entanto, vivemos em boa parte da esquerda a disposição de disputar eleições e ocupar espaços na superestrutura do Estado, o que levou a uma condição real de que a grande massa trabalhadora ficou sem direção nas bases por causa disso e se encontra desorganizada para a luta em suas bases sociais. Mas trabalhadoras e trabalhadores estão observando e no aguardo de um Movimento de Resistência concreto e vigoroso, que lute contra aos intentos desse governo e aponte a direção de luta para o enfrentamento na defesa dos interesses da classe trabalhadora; mas sabemos, que isso se dará quando a esquerda for a voz das massas, identificando os problemas de forma coletiva, encontrando soluções conjuntamente e construindo a estratégia, as táticas e as movimentações sendo apropriadas por todas e todos.

Essas compreensões acertadas da esquerda brasileira acontecem particularmente porque o governo federal no processo de implementação acelerada da política neoliberal, que apressa o entreguismo do patrimônio público ao capital internacional e empobrece e aliena o povo, sem compreender quem são seus inimigos reais, está cada vez mais agressiva.

Para realizar as tarefas que se impõe nesse momento, é necessário compreender uma das grandes restrições organizativas dos trabalhadores, que é a falta de uma comunicação efetiva e de uma extensão plena dos debates promovidos pelos Movimentos e Forças Políticas. Isso tem dificultado a trabalhadoras e trabalhadores de se apropriarem das ações de rua e levando- os a fazer análises apenas balizada pelas mentiras da grande imprensa, que são do tamanho do desastre da política dos liberais e fascistas no poder; o pressuposto de que as notícias da imprensa oficial são o arcabouço que sustenta as movimentações do Estado faz com que as grandes massas se percam ideologicamente nas posições expressas pelos donos dos poderes. Portanto, essa é uma dificuldade original para o movimento de classes e sua consolidação enquanto projeto alternativo para enfrentar os liberais, fascistas e seus aliados; devemos dialogar nas grandes ocupações populacionais onde explorados, desempregados, muitos em condição de sofrimento e miséria, aguardam o debate verdadeiro. Não podemos entrar no debate fácil e rebaixado que o problema do país é a corrupção política. A história das práticas das elites no Brasil é criminalizar a soberania popular e os pobres e ter o Estado para os ricos. Devemos fazer crítica contundente sim à falas do governo como a que diz que o Brasil é uma virgem que todo tarado quer. Precisamos dizer firmemente que esse mito que o povo elegeu para presidir o nosso país é uma vergonha. Independente de identidade partidária, nesse momento, precisamos estar ao lado dos lutadores do povo e seguir em frente na defesa de nossos interesses de classe. É necessário politizar a luta, apontar os segmentos sociais inimigos das políticas públicas que contemplem o bem estar da maioria da população porque atrás de cada pauta há responsáveis, que na percepção do povo são as representações políticas (“políticos”) sem perceberem que a existência dos poderes executivo, legislativo e judiciário, independentes entre si, ainda permitiria um mínimo de fissuras pelas quais os movimentos ainda poderiam se fazer ouvir. O governo federal é totalmente impermeável a manifestações populares, portanto temos que cavar brechas nas instâncias do legislativo e judiciário e fazer a luta em defesa de nossos interesses.

E todos nós somos responsáveis por dialogar com nossos vizinhos e amigos para esclarecer quais são as intenções desse governo antipovo, antitrabalhadoras e trabalhadores, desumano e explorador, quando propõe aprofundar a redução dos direitos trabalhistas com o fim do Ministério do Trabalho para beneficiar os donos das empresas, ou quando propõe uma reforma imoral da Previdência Pública, mantendo o pagamento da Dívida Pública e privilégios de isenção de impostos a empresários, não cobrança de dívidas de empresas ao Estado ou, em seu extremo, roubando da classe trabalhadora o direito à vida plena. Necessitamos desenvolver trabalho de base suficiente nos locais de moradia, de trabalho, de crenças religiosas, de lazer, de encontros… contra a propaganda maciça a favor das propostas do governo, porque só o trabalho de base com vínculos políticos e de confiança, fará a conscientização necessária à adesão do povo trabalhador. No campo as agressões são fortes também, seja com regulações propostas sobre a expropriação da terra, o fim da proteção ao meio ambiente e à vida, ou pela matança continuada dos povos das matas e dos rios para ocupar terras, para roubar os bens minerais e vegetais, retirar dos povos do campo sua sustentação natural e contaminar os rios e as terras.

Nossos Sindicatos, Organizações de Moradia e Estudantis, MTST, MST, entre outras, têm que insuflar esse debate cada vez mais e estar nas ruas, parques, vilas, juntando-se às ocupações no campo e na cidade, lutando pelo direito à moradia; não podemos mais permitir que mais uma trabalhadora ou trabalhador perca o emprego e seu sustento; não podemos aceitar o povo fora das escolas e faculdades, e onde houver um doente sem atendimento, nossa força tem que estar lá para garantir seu atendimento. A concepção central para nossa resistência é trabalho de base, junto com todas as bases sociais, fortalecendo as organizações populares. Todos nós podemos contribuir com esse processo, incentivando conversas públicas nas periferias e repercutindo essas conversas com filmagens e panfletos. Temos que ultrapassar as esferas militantes tradicionais. Mas só haverá avanços se o trabalho de base for retomado com a pauta de que todos os ataques às conquistas do povo têm responsáveis e parte deles está no governo federal e o que ocorreu de 2003 a 2014 foi diferente de tudo que está aí (com todas as críticas que cada um tenha).

Não temos tempo ou direito a vacilações. A ASSUFRGS tem se apresentado à luta, mas necessitamos de mais, de mais ações, de toda a base aderindo aos chamamentos do Sindicato seja para Assembleias e Paralisações, como para estarmos permanentemente nas ruas. Nossas Delegadas e Delegados Sindicais nas Unidades e Setores devem continuar ativos e serem buscados para o debate e para replicar as notícias e informações do Sindicato. Precisamos defender a Democracia e a Relação de Trabalho nos nossos locais de trabalho na UFRGS, UFCSPA e IFRS. Necessitamos do vigor da juventude e da sabedoria operária de todos e todas para a Resistência a esses projetos nefastos desse governo, que pretende destruir o Estado Público e Democrático, não garantidor de emprego, saúde, educação, moradia e justiça para o povo. Juntos, de braços dados, lado a lado, seremos a real vitalidade necessária para a defesa do interesse da maioria do povo.