Às escondidas, Colônia de Férias da UFRGS é extinta e patrimônio é entregue à Proir

A Pró-Reitoria de Inovação e Relações Institucionais da UFRGS solicitou o encerramento das atividades da Colônia de Férias da UFRGS em Tramandaí. O pedido foi acatado pela PRAE – Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e todo o patrimônio será entregue à PROIR, para utilização como Sede Tramandaí do Parque Científico e Tecnológico ZENIT. O despacho determinou o fim da Colônia de Férias da UFRGS nesta sexta-feira (14).

O fechamento da Colônia de Férias da UFRGS ocorreu sem qualquer diálogo com a comunidade universitária, não houve sequer um informe, muito menos algum debate em qualquer conselho da instituição. É mais um capítulo de como a PROIR, pró-reitoria criada pelo interventor Carlos Bulhões, sem o aval do CONSUN, vem administrando a universidade passando por cima dos trabalhadores e estudantes.

Segundo apurações da ASSUFRGS Sindicato, a utilização da Colônia de Tramandaí é demanda antiga de parte da comunidade do CLN – Campus Litoral Norte da UFRGS, não apenas como Casa do Estudante, mas também para uso de outros espaços administrativos e acadêmicos do Campus, já que as obras de três pavilhões do CLN, iniciadas em 2017, jamais se concretizaram. Infelizmente, a PRAE sempre negou estas reivindicações.

Para Marco Alexandre Silva da Silva, servidor Técnico-administrativo em Educação do CLN, o sentimento é de frustração. “Esse patrimônio deveria estar veiculado à PRAE ou então ao órgão mais próximo, que é o CLN, que tem a necessidade de uma área como essa, justamente para ser utilizada pelos estudantes, já que não temos um local adequado para moradia estudantil. Imagine só se nos campi centro e do vale não existisse uma casa do estudante? É extremamente negativo, uma decisão arbitrária, que não percorreu os tramites adequados. Me parece mais uma forma de resolver as coisas no canetaço, tendo em vista interesses que não vão de encontro às necessidades da comunidade acadêmica. Isso que não estamos nem entrando no mérito de usar a colônia de férias para a função que ela foi devidamente construída, para os servidores.”

Nina Lopes, estudante do Ceclimar, conta que a “moradia no Litoral é um pouco complicada, tendo em vista a sazonalidade, ou seja, muitas vezes conseguimos alugar as moradias até outubro ou novembro com um valor justo, já no período de veraneio a partir do mês de dezembro muitos lugares aumentam o aluguel O acesso à colônia de férias sempre foi difícil, nós alunos conseguimos utilizar poucas vezes quando precisamos, e os alunos da Educação do Campo utilizavam com mais frequência, pois muitos dependem do espaço para frequentar as aulas pois residem ainda mais longe.” E ainda acrescenta que “Após diversas conversas entre alunos e direção do campus nunca tivemos um retorno positivo sobre a solicitação, a desculpa era sempre a reforma do espaço e que o espaço é para ser utilizado como colônia de férias dos servidores, não podendo ser ocupado e utilizado pelos estudantes para moradia. A Colônia de Férias acabou. Num ‘passe de mágica’, virou sede da PROIR e do Parque Zenit”.

Para Dilermando Cattaneo da Silveira, docente do CLN e conselheiro do CONSUN UFRGS, chama a atenção que os documentos que estão no processo já falem em “ex-colônia de férias”: “todo material, todo o patrimônio já foi passado para a PROIR. Esse processo foi feito sem nenhum diálogo, com a comunidade universitária ou com o campus CLN. Também não passou pelos conselhos superiores. Alias, a PROIR é uma pró-reitoria que sequer deveria existir, já que o CONSUN revogou as decisões do reitor. Como que num passe de mágica todos os entraves burocráticos apontados pela PRAE como impedimentos para uso da estrutura como moradia estudantil ou para uso acadêmico, são resolvidos? Sem contar que foi criado um novo órgão da PROIR, a Sede Tramandaí do ZENIT, o que pressupõe funções gratificadas, cargos de chefia, etc… A gente espera que isso se reverta, para que a gente possa enfim debater de forma ampla com toda a comunidade, sobretudo com a aprovação do CONSUN“, finaliza o professor.

A reportagem da ASSUFRGS solicitou um posicionamento da PRAE quanto ao desconforto gerado pela decisão. Até o momento não obtivemos retorno. A Coordenação da ASSUFRGS denunciará nas instâncias da universidade onde tem representação, a entrega do patrimônio da Colônia de Férias da UFRGS à PROIR.

Entrega “por baixo dos panos”

A entrega da Colônia de Férias da UFRGS para as mãos da PROIR iniciou durante a pandemia, no período em que a estrutura estava fechada por tempo indeterminado devido á covid-19. Em ofício enviado no dia 21 de dezembro de 2020, o pró-reitor da PROIR, Geraldo Pereira Jotz, solicitou o empréstimo do espaço do Salão de Convivência e de um apartamento da Colônia. O pedido foi feito diretamente à pró-reitora da PRAE, Ludymila Schulz Barroso. Ela acatou no mesmo dia a solicitação.

Já neste ano, no dia 06 de janeiro de 2022, a PROIR envia ofício à PRAE solicitando a utilização integral das instalações da Colônia de Férias de Tramandaí, incluindo a solicitação da passagem do encargo patrimonial da Colônia. No pedido, a PROIR utiliza a expressão “ex-colônia de férias de Tramandaí”. O pedido foi novamente acatado rapidamente pela PRAE, com despacho emitido no mesmo dia, concordando com a transferência do prédio a partir do dia 14 de janeiro de 2022. No mesmo documento, PROIR já encaminha pedido à SUINFRA e DEPARTI para dar sequência à transferência da propriedade do prédio e da carga patrimonial da colônia à PROIR.

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Foto: Arquivo Secom/UFRGS