Artigo: Por que precisamos ir para as ruas?

Por Glória Tavares, Rafael Berbigier, Rui Muniz*

A possibilidade de não termos eleições no Brasil em 2022 é uma ameaça que vem sendo dita pelos governantes do Brasil, há quatro anos. No entanto, há a possibilidade real de uma candidatura do povo ganhar a eleição, e isso é real: a candidatura Lula, que tem perspectiva concreta de derrotar a direita no primeiro turno, é a representação da vontade da maioria do povo brasileiro em oposição ao fascismo.

Mas há a ameaçada real de não ser eleita, por interferências no processo eleitoral e, sendo eleita, de não tomar posse. Essa realidade nos leva a ficar atentos a possibilidade dos generais não quererem largar o poder e voltar aos quartéis, e isso é real; a possiblidade das elites sustentarem um golpe, em sua visão ideológica e econômica, que também é real; a possibilidade de grupos armados, racistas e homofóbicos, cada vez mais alimentados pelo governo, provocarem os enfrentamentos de rua, é real.

A necessidade dos capitalistas que ganham muito dinheiro sustentarem esse governo e o que for preciso para não abdicarem de seus lucros assassinos, é real, assim como é real o atraso social das elites, racista,
protegida pelas forças de repressão no Estado e paramilitares e pelas igrejas conservadoras, LGBTfóbicas. Esse ambiente é real, o governo é real, e não se importam com a fome, a miséria, o desemprego e o caos humano que protagonizam. Esse governo é real, quando gera a insegurança política para que o processo eleitoral do final do ano seja deformado ou nem se realize. E essa composição de poder, com este governo, não admitirá derrota eleitoral e deixar o poder pacificamente.

É muito difícil mensurar o tamanho do risco de golpe, no Brasil Colônia de Banqueiros, mas é certo que existe, assim como existirá as ações de resistência da esquerda e o aumento da violência contra militantes. Não tem jeito: precisamos nos organizar, compreender essa realidade, precisamos ir para as ruas e defender a Democracia, Direitos e tomar medidas de segurança contra essa violência que quer nos amedrontar. Essa realidade precisa ser enfrentada de forma coletiva e consciente, com políticas objetivas.

A Primeira Compreensão do porquê precisamos ir para as ruas, porque no segundo semestre de 2022 teremos um grande esforço do governo de aprofundar a destruição do Estado, enquanto funções sociais e direitos, implementar a reforma administrativa do Estado e privatizar setores estratégicos como Eletrobras e Petrobras. A direita quer a destruição de direitos básicos, econômicos, sociais, em todas as áreas. Por isso a necessidade da unidade dos trabalhadores e povo em geral nas lutas, resistir, ir às ruas em greves, caminhadas, dialogar com o povo. E essa é uma destruição pior que a privataria tucana de FHC, com a extrema direita reassumindo o poder no Estado após o golpe de 2016. Precisamos unificar
as lutas das categorias, dos movimentos sociais, com os estudantes, porque a luta é contra um adversário uniformizado alinhado à burguesia do império global e elites nacionais, que nunca foram tão entreguistas como no atual momento. Querem destruir as Universidades Públicas: já fizeram cortes no orçamento e apontam o pagamento de mensalidades; para nós, trabalhadores nas Universidades, o objetivo deles é alterar as estruturas de gestão com controles individualizados de produtividade e desempenho (Decreto11.072) e impor mudanças nas Relações de Trabalho. Nos cabe enfrentar essa realidade, construindo movimentos com os SPF e Setor da Educação, atos como o Ocupa Brasília dia 14 de junho, porque são alavancas para a retomada dos movimentos de resistência nas ruas, pós pandemia.

Nosso Setor da Educação precisa alinhar com as categorias em luta, Petroleiros, Eletricitários, Sem Teto e Emprego, Povo com Fome, frentes de lutas nas cidades e no campo. Precisamos unificar as lutas na FASUBRA, na ASSUFRGS, nas ruas junto com ANDES, PROIFES, UNE, UBES, DCEs, nas Universidades e Institutos Federais; internamente, os TAES precisam fortalecer o GT Nacional FASUBRA para construção de políticas para enfrentar o Decreto 11.072, Programa de Gestão e Desempenho, com mudanças na Relação de Trabalho, Teletrabalho, Ponto Eletrônico, Flexibilização, e outras distorções do PCCTAE, como suas repercussões com relação à Saúde, transferência de custos, condições ambientais do
trabalho, destacando nisso as destruidoras consequências na organização sindical da categoria.

A Segunda Compreensão do porquê precisamos ir para as ruas, porque a vida da classe trabalhadora está em risco, porque necessitamos nos defender das agressões e assassinatos que estão sendo executados contra o povo, de diferentes formas. Nas cidades e no campo, o povo sofre com o machismo, racismo, homofobia e preconceitos, e os assassinatos, torturas e ameaças estão sendo uma realidade contra militantes e os movimentos sociais. É o povo sendo agredido e assassinado em todo o país, na resistência de estudantes, operários e servidores públicos; são massacres e assassinatos de lideranças dos povos indígenas, quilombolas, povos originários e das matas.

A Terceira Compreensão do porquê precisamos ir para as ruas, é a necessidade de debater sobre as eleições com o povo e com a categoria e garantir as eleições de 2022, porque a possibilidade de golpe civil e militar é real. Precisamos fortalecer todas as movimentações que busquem garantir que as eleições se realizem e que a continuidade desse governo seja inviabilizada pela candidatura popular de Lula, no ambiente democrático. Precisamos ir para as ruas disputar, com a identidade do povo, o caráter
do Estado, Democracia e Direitos, assim como Relações de Trabalho justas para Servidores Públicos.

Precisamos da vitória dessa composição popular nas eleições, eleger Lula e empossar Lula. Não há alternativa: no caso de vitória da extrema direita, teremos um cenário avassalador para o povo, com a destruição do Estado e dos Serviços Públicos.

É necessário que nós, Trabalhadores em Educação nas Universidades e Institutos Federais, estejamos nas ruas para garantir a Democracia dentro e fora das nossas Instituições. Vamos para as ruas e, no próximo ano, construiremos nossas pautas nos Congressos da ASSUFRGS e da FASUBRA, nas Organizações Populares, estaremos na defesa da Democracia e Autonomia das Instituições de Ensino, do Acordo Coletivo com Servidores, pela revogação da EC 95 e das contrarreformas trabalhista e da
previdência, assim como garantir o não pagamento e auditoria da dívida brasileira.

Precisamos ir para as ruas, coletivamente e organizados, com segurança, assim como precisamos resistir a autoritarismos nas nossas Instituições de Ensino.

* Este é um texto opinativo dos colegas TAEs que assinam este artigo e não necessariamente reflete a posição da Assufrgs Sindicato.

Foto em destaque: Scarlett Rocha